CARTA DE AMOR Nº 3
Alberto,
A sua carta me surpreendeu, pois não sabia que tinha um admirador secreto aqui na comunidade. Para um tímido confesso, a ousadia em me escrever parece contrariar isso. Eu hesitei muito antes de decidir te responder. Após um casamento fracassado e um divórcio traumatizante eu estou achando que não tenho mais direito ao amor e á felicidade. No entanto as suas palavras mexeram comigo, sobretudo esta frase: "o motivo desta carta é para mim da mais séria importância e quem sabe se para você também".
As palavras: quem sabe... podem encerrar algo de muito importante tanto para você como para mim. A minha mãe conhece bem a sua história, pois é amiga de uma das suas tias. Ela acha que você e eu temos algo em comum muito importante: Vários anos de vida frustrada e infeliz. Mamãe usou estas palavras: Quem sabe... se depois de tanto sofrimento, não poderão ainda ser felizes juntos. Sabe Alberto, dos meus três anos de casamento, só fui feliz até ao dia em que exames médicos mostraram que eu nunca poderia ter filhos.Sofro dum defeito congênito que me impede de engravidar. O meu ex-marido nunca aceitou esse fato. Sendo de descendência holandesa, queria mostrar, com orgulho, á sua família na Holanda um descendente loiro de olhos azuis. Como isso não poderia acontecer, me infligiu muitas humilhações diante da família e amigos, dizia: Ela é uma erva daninha que nunca dará fruto, não vale mesmo nada. Mais tarde por intermédio de uma amiga assistente social soube que havia um menino recém nascido que poderia ser adotado, a mãe morrera vítima de uma bala perdida. Uma pequena reunião foi marcada no hospital onde estava a criança. Estavam presentes um funcionário do serviço de adoções, a assistente social, dois médicos e nós.
Quando trouxeram o bebê meu marido deu dois urros: Eu não vou adotar isso, um negro! Jamais. E saiu correndo.
As humilhações continuaram.Em ocasiões festivas oferecia flores às suas funcionárias, mas a mim nem se lembrava que era a minha festa. Até que um dia soube que a minha melhor amiga estava esperando um filho dele, aí optei pela separação.
De tudo isso guardei seqüelas. Tenho tendência a deprimir, me irrito com facilidade e tenho crises de angústia. No entanto assim como quando nos queimamos o melhor remédio é passar água bem gelada na queimadura, assim preciso de alguém quem me trate com carinho e amor o que nunca tive durante o meu casamento.Se o Alberto quer aceitar o desafio venha uma destas noites aqui em casa para conversarmos. Eu não costumo sair á noite. Se você aceitar a minha condição de mulher estéril, quem sabe se você será um bom marido para mim e eu uma boa mãe para a Vanessa e a Eliane.
Branca
Autor: Victor Alexandre