Carta a um Coração Ferido
Quando o coração é ferido profundamente ou quando guardamos um trauma de infância, causado pela ignorância de pessoas inescrupolosas que não imaginam as graves conseqüências dos seus atos, carregamos aquela ferida por toda vida. Dificilmente apaga-se da memória uma ferida profunda. Quase sempre aquela marca e aquela lembrança é reativada, mesmo que seja no subconsciente do ser humano que a contém. Pois, acontecimentos terríveis provocam transtornos igualmente danosos nas mentes dos seres humanos.
Assim, no decorrer do tempo, basta uma palavra, uma ofensa, um desafio, um problema mais difícil ou algum estresse, para desencadear um turbilhão de sofrimento e dor, ondas de pensamentos negativos, depressão e os mais diversos tipos de reações possíveis, que tendem a se repetir ao longo da vida. As águas lodosas e obscuras do subconsciente tentam apagar a alegria e a luz que existem em nós. E o pior de tudo que muitas vezes nem sabemos de onde surgem as trevas que nos atrapalham o viver.
Dessa experiência eu posso aconselhar e falar pois vivi intensamente nos meus dias passados. Com o tempo aprendi a reconhecer e conviver com aquela terrível marca. Custei muito para descobrir do que se tratava, minhas reações repetidas ao longo do tempo e meus sentimentos às vezes turvado por acontecimentos do presente que me levavam para os porões escuros da minha memória. Momentos de quase loucura e até desequilíbrio da saúde física das mais diversas naturezas. Aprendi a lidar com aqueles sentimentos antes mesmo que eles tomassem conta do meu presente. Me prevenir para os momentos que eles tentavam aparecer, descobrir quando eram ativados por aquela ferida distante e persistente, foi a melhor maneira que encontrei para me defender da sua tirania em meu ser.
Ficava alerta antes das reações, acordava-me no meio daqueles sentimentos e procurava viver a plenitude do meu ser e me libertar daquele passado. Por muitos anos eu fui identificando e me conscientizando do que se tratava e como eu tratava aquela ferida em mim. Procurei despertar todas as forças positivas que existem em meu interior e com o tempo fiquei sabendo que sou mais forte que tudo aquilo que um dia existiu e tentou me escravizar.
Deste modo, venho me salvando das garras daquela força. Faço do meu presente uma luta diária contra o mal que foi instalado em algum momento da minha vida. Me alio com todos os bons momentos vividos e com todos os amigos que tenho, além disso, tenho fé no meu Salvador e no meu guia espiritual.
Existem amigos que são verdadeiros anjos da guarda, que nos compreende e nos ampara nos momentos precisos. Quem já sofreu, tem a sensibilidade e entende aquele que sofre, assim, pode melhor auxiliar alguém a sair daquele labirinto. Geralmente o sofrimento é amenizado com a doçura das palavras de compreensão e a sua capa escura já não consegue mais cobrir a Luz que existe em nós.
Mas, não é somente isso que é preciso, pois é importante, também, perdoar profundamente, dentro do nosso coração, todos aqueles algozes do mal, que de algum modo, nos agrediram com sua cruel ignorância. Todos eles vivem pesadelos na vida e não sabem o que, nem o porque, fazem aquelas maldades. Muitos, não lembram, esqueceram ou nem perceberam o mal que fizeram, mas precisam, assim mesmo, serem perdoados. Precisamos também perdoar a nós mesmos, se demos algum cabimento para aquela situação. O perdão é a chave de toda a libertação do nosso ser. Ele pode verdadeiramente nos curar para todo o sempre.
Podemos assim, estabelecer em nós uma visão mais ampla da bondade infinita que é Deus e construir um escudo com sua Luz fina e cristalina, onde o mal não poderá mais tocar. Deixar nossa Luz brilhar e não mais se importar com o passado, pois o que realmente importa é o presente. Este sim deve ser bem vivido, bem cuidado para que possamos preservar a vida, esse bem maior que nos foi dado. O tamanho da dor suportada é proporcional ao tamanho da alegria que sinto pela libertação do meu Ser.
Ubá, Lua Cheia, 16/09/16