Carta ao meu amor

Campos, 16 de setembro de 2016

Que saudade de você, meu amor! Essa distância entre nós está me apertando o coração. Todas as noites quando coloco a cabeça sobre o travesseiro e escuto o silêncio da solidão, me lembro de você e as lágrimas escapam dos meus olhos. Quando acordo, já é manhã, o sol ilumina a janela do quarto, a cidade está viva lá fora, mas o silêncio continua aqui dentro. Dia após dia, mês após mês, sua ausência tem sido a coisa mais presente na minha vida.

Por aqui as coisas continuam na mesma. A conta anda apertada no final do mês, mas estou tentando me virar do jeito que dá. Continuo sabendo cozinhar apenas arroz, macarrão, feijão e bife para sobreviver. Ainda espero você me ensinar a fazer aquele tropeiro delicioso que só você sabe. Prometo tentar não colocar fogo na cozinha. Tentarei, pelo menos. Espero que tudo esteja bem por aí. Mande notícias de Mariana. Já faz quase um ano desde que estive aí e visitei sua irmã no hospital pela primeira vez. Sei que a recuperação de um trauma tão grande não é fácil, mas você sabe que pode contar comigo para o que for preciso. Mande um grande beijo na família.

Estou escrevendo esta carta em uma sexta-feira à noite. Foi sempre em uma sexta-feira à noite que sai de casa para te encontrar. Abri a geladeira e vi a última garrafa de cerveja que você me deu de presente. Estava a guardando para uma ocasião especial. Para mim, hoje é uma ocasião especial. Agora estou na escrivaninha do meu quarto com a garrafa ao lado deste papel para me lembrar ainda mais de você. Aliás, você sempre sabe como me agradar. Que cerveja maravilhosa! Um sabor inesquecível de uma amburana brown porter, com um gostinho suave de café e chocolate. Só você!

Parei para mexer um pouco no computador e acabei esbarrando nas nossas primeiras fotos juntos. Você se recorda da primeira vez que nos vimos? Eu estava cansado e de mau humor depois de uma longa viagem. Era uma manhã fria de sábado, o dia estava nublado e queria apenas um pão e um café. Fui para o hotel deixar minhas coisas e depois quis caminhar pela cidade. Me falaram que tinha um ótimo lugar para comer bem perto, na praça principal. Depois de várias esquinas e ladeiras, finalmente cheguei na praça. Quando virei para frente, me deparei com você. Mesmo com todo aquele frio, você estava tão elegante e bela. Ainda me lembro daquele cachecol cinza, das cores que vestia e a beleza que deixava escapar. Instantaneamente, você olhou diretamente para mim. Não estava acostumado com isso. Sempre fico desconcertado nesses momentos. Nunca tinha sentido algo tão intenso e verdadeiramente profundo antes. Mas tive a convicção, naquele instante, de que você era o amor da minha vida. A mesma certeza de que você também tinha sentido alguma coisa também.

Ficamos nos encarando por um tempo. Imóveis. Mudos. Na minha cabeça uma voz gritava de euforia: “Meu Deus! É linda demais! É tudo que sempre sonhei!”. Para falar a verdade, nunca pensei que fosse me apaixonar perdidamente assim à primeira vista, mas não tinha como negar meus sentimentos. Por onde eu andasse na praça, nossos olhares acabavam se cruzando. E mesmo sem dizer uma palavra, estávamos chamando um ao outro. Parecia um jogo, onde nós éramos as peças principais. Nos aproximávamos cada vez mais. No entanto, acabamos nos perdendo no meio da multidão e dos carros que embaralhavam o tabuleiro. Tive que ir embora. Já estava na hora de uma palestra do evento que fui assistir na cidade. Enquanto um acadêmico qualquer falava, mostrava gráficos e discutia com os convidados, coloquei a mão no queixo, fiquei olhando para o teto e pensando apenas em você.

Confesso que me culpei por não ter falado nada com você antes. Pensei que nunca mais teria a mesma oportunidade. Mas quando sai da palestra, dei de cara com você novamente. Desta vez estava determinado a não te deixar escapar. Passeamos juntos por horas, te convidei para comer uma pizza à noite e depois você sabe bem o que aconteceu. No dia seguinte, o sol surgiu e despiu o céu das nuvens. Você parecia ainda mais linda, mais radiante. No final da noite, fomos tomar um chocolate quente na praça para aquecer daquele frio. Depois passamos a madrugada inteira namorando ali na praça mesmo, como dois adolescentes inconsequentes e apaixonados. Era minha última noite na cidade. Não queria que o dia nascesse nunca mais. Não queria sair de seus braços nunca mais. Não queria ir embora nunca mais. Não queria parar de sentir você nunca mais. Na verdade, isso eu nunca deixei de fazer.

Não há nenhuma tarde ensolarada que não me lembre daquela mesma tarde de domingo em que ficamos sozinhos nas escadarias da velha igreja até o sino badalar seis vezes e as portas se abrirem para os preparativos da missa. Que um dia nos perdoem por tanto amor.

Quando fui embora na manhã seguinte, não tive como evitar as lágrimas. As músicas que tocavam no rádio ficaram gravadas na estação do adeus. Mas nunca gostei de despedidas. Tenho certeza de que não foi definitivo e, sim, um até breve. Pode ter certeza de que eu voltarei. E dessa vez será para nunca mais te deixar. Posso sentir que este momento está próximo. Meu olhar será para sempre seu. Apenas seu.

Já são três horas da manhã e até o efeito do álcool passou, mas meu coração continua apertado de saudade de você. Não existem remédio ou palavras que aliviem. Mas não vou me estender para não ser cansativo. Apenas quero que saiba que escrevi esta carta para dizer que te amo, Ouro Preto.

Att,

Aldir

Aldir Junior
Enviado por Aldir Junior em 17/09/2016
Código do texto: T5763478
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