Uma carta de saudade para meu pai

Pai...

Essa saudade nunca passará. Você vive eternamente em mim.

Saudades de quando o senhor me apoiava em uma das pernas para eu brincar de lambreta, ou quando me apoiava em seus ombros, nos igarapés ou piscinas, para eu brincar de briga de galo. Era tão divertido!

Saudades de quando brincávamos de pescar e você embalava a rede para fazer de conta que estávamos num barco. Você amarrava nossas sandálias e elas viravam nossos peixes. Era tão legal!

Saudades de quando eu sentava no chão, perto das suas pernas, para que o senhor me catasse. Eu gostava do jeito como você matava os piolhos! Era um verdadeiro herói, matando os parasitas que me atacavam na escola.

Saudades de comer aquele delicioso pão doce que o senhor trazia para mim todos os dias. Sem falar das pupunhas que o senhor comprava quando ia à feira.

Saudades de deitar no seu colo e receber seus cafunés. Suas mãos, leves e suaves, me transmitiam paz, proteção e muito carinho.

Saudades de quando o senhor ia me buscar na escola e ficava cantarolando as músicas do Nelson Gonçalves até chegarmos em casa.

Saudades de quando o senhor preparava pipoca na panela para mim. Eu amava o jeito como o senhor era atencioso comigo e fazia de tudo para me agradar. Ficava a observá-lo para que, um dia, eu conseguisse preparar pipocas como você.

Saudades do apoio e do incentivo que recebi ao me dedicar ao Teatro e à Literatura na adolescência. O senhor esteve presente em cada espetáculo de que participei. Aliás, desde cedo, o senhor despertou minha paixão pelas artes, seja me presenteando com meu lindo pianinho de armário, seja declamando e escrevendo as mais belas poesias.

Saudades de quando o senhor me esperava voltar para casa e me olhava de cara feia quando eu chegava às 22:00h de meus passeios. Perdão, meu pai, pelas preocupações que lhe causei.

Saudades de ouvir as histórias sobre sua infância e juventude. Seus olhos brilhavam de emoção ao compartilhá-las comigo. Amava escutar suas aventuras!

Saudades de quando o senhor me ensinava truques de mágica e me dava aulas de matemática também. Pena que não herdei seu talento com os números.

Saudades de quando o senhor falava sobre os livros que eu deveria ler. Procurei por eles e os li com grande felicidade. Uns, só encontrei em sebos. E foi assim que a coleção Tesouro da Juventude e livros como O Homem que Calculava entraram em minha vida.

Ai, pai... o senhor faz tanta falta! Há um vazio dentro de mim, sabe? Uma vontade, sem fim, de chorar...

Serei sempre a sua Gota de Orvalho e ainda estou tentando ser como o sândalo, do jeitinho que o senhor me ensinou. Mas confesso que é difícil perfumar os machados que me ferem...

Pai, obrigada por tudo. Receba o meu carinho onde estiver...

Da filha que te ama,

Tua Gotinha de Orvalho

Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 13/08/2016
Código do texto: T5727807
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