CÁLICES NOS OLHOS
Vani,
É dez de julho. Mais um ano se completa desde que tu te foste; atônito e saudoso, ainda estou! Nessa data, golpeou-me a vacância de companhia a minha direita; desde então, o vazio de tua presença entristece, asfixia, dilacera.
Por acaso ou por desígnio - quem o dirá? - fui astro no firmamento de teu viver; nele, tive-te ao centro, em torno de quem orbitei. Acostumei-me à atração de tua força, à harmonia de tua atmosfera, à calidez de teu amor. Na trajetória de nossa união, sob o lume de tua luz, alinhei-me no ordenamento de teus movimentos e me acomodei na perfeição de teu universo.
Nesse dia, o tempo fez parada na estação da melancolia. Nostalgia foi o que restou ao alcance do mundo que aqui deixou tua partida, tão imprevista quanto inexplicável, lacerante; ela me reduziu a um ponto, sem traço nem ângulo, distante, exogaláctico; fez de mim um ente abordo de nave sem rumo, com radar a capturar imagens da felicidade em fuga, sem planos de regresso e em rota contínua no limiar do inconcebível, já tangendo um provável destino infinito.
Hoje, embora à ausência, tua lembrança energiza o coração; não permite que se debilite nas solitárias horas em que pensamentos viajam quando, à mente, a paisagem é só saudade.
Da memória, transcorram-se dias, anos, eras ... não se apagará um único traço de tua existência, enquanto ao peito remanescem indecifráveis porquês de te ter perdido. E a alma, ainda aflita, segue padecendo da resiliente inabilidade de mensurar a graça que transcende o discernimento: a anuência de Deus em me ter dado de te conhecer!
Vani, de todo o ser e no mais profundo do íntimo, sempre te amará o