Insônia coletiva

Naquilo que disse ou deixei de dizer. Há sentimentos nisso. Quer dizer, era para ter, estávamos juntos até pouco tempo, então... Mas mesmo se você não liga, eu sou forte. Consigo superar esse tempo que passamos juntos, eu acho. As pessoas aguentam um divórcio, um luto, uma reprovação. Acho que eu consigo, talvez com esforço, esquecer nossos dias de glória. Aqueles, lembra? Não... Você esquece, mas vou contar:

Fomos pela primeira vez ao jardim e fizemos nosso primeiro projeto de piquenique. Você me disse “Não vai dar certo, Lucas”, e no fim do dia voltou atrás dizendo “Quero mais dias como esse”, e quando paramos em frente ao cinema? Bem ao lado do elevador nós esperamos a porta abrir e quando abriu, entramos, e quando ela estava quase se fechando, gritamos “O PERSONAGEM X VAI MORRER”. Todos nos xingaram... Sinto falta dessas loucuras.

Talvez seja esse o motivo, sabe? D’eu estar escrevendo. Não estamos mais juntos, apesar de que, para mim, o destino não nos obrigou a terminar. Ainda sinto sua falta, mas o que pode ser feito? Queria acreditar nas bobagens que eu te dizia no começo de nosso namoro. “Nunca deixaremos ao outro”; esse é o mais bobo: “Vou construir uma máquina do tempo e então poderemos voltar no tempo e viver eternamente”. São coisas infantis, imaturas, mas recíprocas, pelo menos a intenção.

Meu dia está afetado com isso. Não propriamente o dia, é claro. Eu tenho dormido pouco. O Sergio, aquele médico que gosto, prescreveu todos os tipos de remédios para que eu dormisse. Até meu psiquiatra sugeriu uma breve internação, onde eu deveria tomar um sedativo mais forte. Eles não entendem que meu remédio, e eu não posso ter, é você. Minha vida girou em torno de você, e agora que você se foi, vivo cada dia como se fosse apenas mais um. As coisas deixaram de ser especiais, sabe? Tudo é preto e branco com um pouco de cinza detalhando aquilo que em breve não me importarei.

E é isso. Fomos felizes.

Adeus, e descanse em paz meu amor. Continuarei a te visitar, mas apenas em meu coração.