O reencontro

Por muito tempo evitei estar no mesmo lugar que você. Sempre que me chamavam pra sair eu logo perguntava: ela vai? Se a resposta fosse afirmativa eu já ia pensando numa desculpa pra não ter que comparecer e ao mesmo tempo não parecer desagradável para os outros que me cercam. Sei que todos sabem que eu não estava com dor de cabeça, nem com problemas no estômago, muito menos que meu gato fugiu e passei a noite toda a sua procura. Não fui naquela festa, naquele encontro, na casa do amigo por não ter estrutura pra te encarar.

Mais de um ano sem trocar uma palavra se quer, como é que eu olho pra você? O que eu vou falar? "Nossa como você tá bonita", isso é ridículo. Nos conhecemos desde que me entendo por gente e apesar de toda a distância física que existia eu nunca fiquei sem palavras e com medo de te reencontrar porque sabia que nada teria mudado, que você me chamaria pelo nome ao invés do meu apelido, que colocaríamos uma música pra tocar enquanto arrumamos pra sair, que deitaríamos a noite e ficaríamos conversando até dormir. Mas dessa vez era diferente. Imaginar te reencontrar me dava calafrios e meu maior medo era ser desprezada. E fui.

Tive mil oportunidades de ver você na minha cidade, mas só tomei coragem quando o reencontro fosse acontecer com muitas, muitas, muitas mesmo, pessoas em volta. Viajei sete horas e sinceramente, não me arrependo. Quando me dei conta que estávamos no mesmo lugar meus olhos já começaram a te procurar, mas não era para eu me aproximar. Eu queria te achar para manter uma distância considerável e ter a desculpa de falar: poxa, não te vi em meio aquele tanto de pessoas. Só que quando me dei conta, meus olhos te acharam e minhas pernas começaram a ir na sua direção. "Mas que merda é essa que eu tô fazendo?" Meio sem graça toquei no seu ombro, abri um sorriso e falei um "oi" muito sem jeito. Você, de óculos escuro, não me deixou ver o que sentiu ao me ver ali parada do seu lado, com a cara paralisada e a mão gelada. Senti seu abraço. Não sei se posso chamar de abraço. Parecia obrigação.

Eu estava cercada de pessoas que eu amo estar perto, que me divertem e me fazem rir e você era uma pessoa só, no meio de inúmeras outras. Só que pesou. Ninguém conseguiu me animar e eu fingi estar cansada demais da viagem para expressar alguma felicidade. Tentei me aproximar algumas vezes perguntando sobre suas tatuagens novas, que inclusive uma delas foi feita junto com uma amiga e você fez questão de destacar essa informação, brincando sobre a cerveja que você não bebia quando deixamos de nos falar... em vão. Me senti vazia, sozinha, triste e queria ir embora logo. Eu ficava te observando e vendo como você já se curou do problema que nos afastou. Rindo. Bebendo. Dançando. Nunca senti nada igual. Sua presença me incomodava, mas não queria te perder de vista.

Espero que você não tenha se sentido como eu. É horrível.

Delilah
Enviado por Delilah em 07/06/2016
Código do texto: T5659880
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.