Adieu

Querida Olívia,

Escrevo-te porque já não tenho mais recursos aqui onde estou. Escrevo de uma cartada só, sem revisar, te vomito minhas palavras. Sinto saudades suas, mas não é sobre isso que quero falar agora. Escrevo-te porque você está distante, e não quero te dizer isso e ter que olhar nos teus olhos depois. Sei que não vamos nos encontrar tão cedo.

Nunca estive tão exausta e nunca produzi tão pouco. Sinto agora uma necessidade enorme de te contar sobre mim - essas coisas que não existe uma hora certa pra dizer, a gente só diz. Pois bem, já conversamos sobre como a lei recai mais para uma certa parte da população do que para outra. Mas e quanto as leis naturais? Sinto que está tudo tão pesado, mas não estou no direito de reclamar porque o nome disso é carma. Mas que mal foi esse que eu fiz e ninguém mais fez? Sinto nojo de mim porque me acho muito superior aos outros. Fico tentando reprimir isso a todo momento e isso está me matando. O que acontece é que fui objeto da minha própria análise por muito tempo e não posso contar com uma segunda opinião. Eu me pesquiso e talvez tenha feito tudo errado esse tempo todo. Porque se você me olha um pouco mais distante, poderá ver que sou nobre. Mas por dentro sou perversa. E me ocorre que acho exatamente o contrário: tenho uma imagem perversa, mas sou nobre por dentro. Estou confusa.

Talvez eu me alongue demais nas minhas explicações. O caso é que estou tão cansada de tudo, preciso urgentemente me isolar em qualquer lugar. E, claro, preciso avisar alguém da minha partida - não quero ser seguida de modo algum. Por favor, não deixe que ninguém entre em contato comigo.

Estou partindo para ver o mar. Já não posso mais permanecer nessa cidade, não posso permanecer perto dessas pessoas. Estou abandonando esse porto a que estive presa por tanto tempo. Estou abandonando a mim mesma. Não posso responder se será permanente.

Obrigada por tudo

Sempre sua,

Mariana.