Do que vi e não vi
Eu vi o mundo
Vi, sim.
Inteiro, o maluco.
E sofri o diabo
Que até hoje não sei
Como foi que o digeri.
Correndo, feito doida,
Pra agarrar o farabuto
Pelos chifres, pelas ancas, pela goela.
Descabelada, estropiada
Mal-amada
Mas vi a cara dele. Eu vi!
Tentei, claro, ver se havia o belo
E vi do sonho um pouquinho
Um tantinho de quimera...
Tentei, algumas vezes descobri
Outras, nem sabia o que era
Aquele doce esquisito
Que eu queria saber o gosto
Pouco, pouco, mas confesso
Que este pouco também vi.
Eu vi o mundo
Com tudo o que há nele
E vi, de cara lavada,
Com dor no olho
No estômago, no dente
Vi, enquanto apanhava
Enquanto batia
Enquanto sorria
Enquanto chorava
Vi, de trem, de carro, da rua
De casa, pelada, vestida
Vi de canto, vi de frente
De soslaio, da janela
Sim, eu vi o mundo
E vi de tudo...
Ano a ano, foi-se a vida
- Só não te vi dentro dela! –
Desaprumada, vejo agora:
Não sei onde eu estava
Enquanto via o que via.
Enquanto eu, só, vivia
Não te vi indo embora.