SOBRE O TRABALHO EM CONDIÇÕES DESUMANAS

RESPOSTA A MEU FILHO GABRIEL:

É Gabriel!

A medicina do trabalho tem fundamental importância na saúde pública na medida em que tenta proteger os trabalhadores dos agravos, doenças e acidentes decorrentes das diversas atividades necessárias para a sociedade de consumo em que vivemos.

Ocorre, porém, que a despeito de normas regulamentadoras existentes em quase todos os países, infelizmente o capitalismo dito ¨selvagem¨, exige dos trabalhadores uma produtividade exageradamente desumana, onde as linhas de produção são verdadeiras ante câmaras do inferno, autênticas casas de tortura. A indústria frigorífica, conforme mostra o documentário, é uma delas.

Infelizmente também, o papel do médico do trabalho na grande maioria dessas empresas, é decorativo, funcionando apenas como vitrine para as fiscalizações trabalhistas e olhares da sociedade em geral, principalmente os clientes. O profissional, por sua vez, se sujeita a essa ¨farsa¨ em nome dos altos salários que se paga, afinal, para as indústria é irrisório considerando as despesas decorrentes das consequências advindas da inexistência deles.

Cabe ao médico e sua consciência tentar mudar essa situação, na conscientização dos empresários (o que é muito difícil) ou exigindo o cumprimento das normas conforme estabelecidas. O resultado? Rua para o médico, afinal, à sua saída tem dez querendo entrar. Ora, se na segunda guerra e também à época das torturas na ditadura militar brasileira, não faltou médico para ser, no mínimo, conivente com as atrocidades ocorridas com pessoas inocentes, imagine no trabalho. Do ser humano tudo espero, independente de profissão, credo, etnia.... basta ser humano.

É por isso que seu pai não fica bem de vida. Só para você ter uma ideia, há duas semanas fiz acordo de demissão com uma das empresas de transporte público em que trabalho, que passa longe desses frigoríficos em termos de prejuízo à saúde do trabalhador, mas por muito menos, em função de não ser ouvido em algumas orientações e determinações minhas, pedi para sair. E olha que eu ganhava muito bem pela hora trabalhada e só cumpria sete horas semanais.

Bem, mudando o rumo da prosa mas mantendo o mesmo assunto, vocês veganos deveriam utilizar esses documentários para os apreciadores de carne. Paul McCartney já utilizou esse método. É horrível o processo de produção e preparo de suínos e bovinos para posterior consumo. Imagine o local de trabalho, o frio, odor de sangue e carne, etc...

É como meu pai dizia (o velho tonico Florentino)... ele não comia carne de frango se assistisse ao seu abate. Também sou assim. Agora já tenho vivência suficiente para separar bem as coisas, ou seja, quando estou comendo carne, não fico pensando no abate, preparo e sofrimento do animal que forneceu esta carne. Se assim fosse, não teria condições de ser médico atuante de emergência, pois a qualquer instante estaria pensando nas mazelas humanas características do setor, principalmente nas vítimas de acidentes graves.

Mas para quem não tem essa convicção formada (e que são muitos), garanto que, ao assistir o vídeo, no outro dia o maior dos carnívoros vai passar a ser, no mínimo, vegetariano..

Abraço e beijo carinhoso do seu pai

Marco Antônio Abreu Florentino

VÍDEO:

Olha aí pai, a importância do médico do trabalho nos frigoríficos. Tu vai gostar. (Gabriel Florentino)