25 anos

25 Anos

Após 25 anos de casado, no meio da minha festa de bodas, venho dizer aos senhores, senhoras e senhoritas, que perdi muito tempo de minha vida. Digo isso com a maior sinceridade, maior até do que a que eu deveria ter diante de tal cerimônia. Tão solene, tão cheia de frases feitas e choros emocionados que falseiam nosso descaso pelo dia-a-dia.

Casei-me, não por amor, nem por medo de ficar sozinho, já que minha mãe sempre me acompanhou e esteve presente em minha vida, lavando, passando, cozinhando e me ouvindo mesmo que nos intervalos da novela. Casei-me com Laura, somente porque ela não era tão feia, nem tão desagradável para eu dispensá-la enquanto namorávamos e porque fui rejeitado pela mulher que idolatrei durante anos, não me importando se ela era feia, baixa ou gorda, mas sim que eu amava simplesmente o fato de ela respirar e assim existir.

A dor por ser rejeitado me conduziu aos mais estranhos relacionamentos com as mulheres mais confusas e paranóicas que conheci e que só refletiam meu estado interior. Conhecer você, Laura, foi como encontrar um oásis no deserto, durante um bom tempo fui fiel a você não por amor, mas sim por achar que esse era o maior prêmio de consolação que um homem poderia ter. Graças a você, hoje estou aqui e não num quarto de hotel comendo macarrão frio e sobrevivendo do resto da pensão de alguma mulher louca com a qual com certeza teria me casado.

Durante todos esses anos tive amor, comida, roupa lavada, um ombro sempre disposto a me apoiar e um ouvido para me escutar mesmo que nas observações e exigências mais absurdas. Laura, você foi a mulher mais paciente, doce e calorosa de quem eu já ouvi falar, e hoje afirmo que perdi meu tempo em não deixar esse amor crescer em mim enquanto eu era mais novo. Quantas vezes eu fiz você chorar, dizendo que suas mãos cheiravam a cebola e que seu corpo não tinha o cheiro doce do corpo da mulher que me rejeitou, a quem eu amei e deixei muitas vezes roubar seu lugar no meu pensamento.

Somente depois de 25 anos de casado, já velho e cansado, percebo que o amor se constrói diariamente e não do dia para a noite, como os jovens costumam acreditar, e sim com choro, com sorrisos, com o suor de prazer umedecendo os lençóis pelas noites ao longo dos anos, com as mudanças dos corpos e com as rugas nos mostrando que não somos mais crianças, mas que devemos amar como tal quem está do nosso lado todos os dias, e não as lembranças ou tentações que, como o Diabo, só servem para nos confundir.

Esta noite, depois de anos sonhando com este momento, espero fazer amor com a mulher a quem realmente amo. Pois hoje, finalmente, depois de muito tempo perdido, descobri que eu amo você.

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 13/07/2007
Código do texto: T563936