Carta de inverno

Caro amigo,

Para ti eu não poderia mentir. Não é só lá fora que o inverno reina, mas também dentro de mim. Ainda não congelou-me por completo mas, pelo ritmo, não tardará.

Meu coração afinal não é tão frágil quanto supus, foi capaz de construir para si uma armadura, onde está enclausurado. Só lamento que tal esconderijo seja tão pequeno e ele fique ali apertado. É doloroso, mas tenho suportado.

Sei o que pensas sobre isso: eu deveria destrancar os cadeados e libertar meu coração. Desculpe, não posso. Eu tentei, entretanto sou incapaz. A chave para meu coração quebrou-se. Hoje ele vive no topo de uma montanha que poucos ousariam escalar e menos ainda seriam capazes.

Ele teme o amor. Teme entregar-se e ser novamente um brinquedo. Teme ser tão maltratado outra vez. O medo nunca foi a melhor opção, mas é um instinto humano.

Certa vez sofri por me entregar, hoje sofro por temer, em breve nada sentirei. Abraço o inverno e peço que ele me abrace de volta.

Não te preocupes, estou ciente das consequências.

Meus carinhos e um tranquilo inverno.

Sua amiga de sempre.

Gabriela Gomes Bastos
Enviado por Gabriela Gomes Bastos em 14/05/2016
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