Eu preciso ser minha..
Desculpa, mas descobri que preciso me ter de volta. Eu me entreguei demais, me doei em tudo, me joguei nos seus braços e esqueci minha vida. Para te fazer sorrir engoli meu choro, para te agradar fui contra mim mesma. Eu sempre fui de mergulhos profundos, a superfície nunca me atraiu, o raso sempre me irritou. Eu mergulhei em você. Mergulhei em nós. Mergulhei fundo, prendi meu ar, fui mais longe do que meus pulmões aguentavam e hoje caiu a ficha, eu me perdi de mim em algum lugar dentro dos seus olhos. Eu sei que vai ser difícil mas eu preciso voltar. Voltar e me encontrar, em qualquer um desses cantos em que eu possa ter me deixado. Talvez entre as ostras porque eu sempre gostei de pérolas, mas sempre tive medo de ir lá porque há muito dor entre elas. Tão estranho pensar que tanta dor gera algo tão lindo. Tá vendo como a natureza ensina? A natureza é como o grito inaudível de Deus nos dizendo o que teimosamente não queremos entender. E eu acho que toda essa dor que eu vim acumulando gerou algo lindo dentro de mim, apesar de ainda estar doendo muito, já vejo a pérola nascendo. Eu estou voltando a me amar sabe? Há um amor próprio incrível e uma sensação maravilhosa de ser quem eu realmente sou. Eu já nem lembrava como era me sentir assim, ser feliz por ser quem eu nasci para ser. Ser feliz por estar sendo quem eu nunca deveria ter desistido de ser.
A culpa não foi sua, entenda. Nosso sentimento era lindo, na verdade, acho que ainda é. Ele não acabou, talvez nunca acabe. Eu não me lembro de nada antes disso, o amor mais frenético que já vivi, mais intenso, tão grande que foi capaz de me engolir. Tão violento que me devorou. Tão forte que me viciou. Mas há um perigo em se viciar em algo, porque a dependência nos torna coadjuvantes de uma relação, na qual o vício é o protagonista. Consegue compreender? Eu te dei o lugar que deveria ser meu na minha vida. Eu precisei tanto de você que o medo de qualquer atitude te tirar de mim me fez simplesmente não tomar mais atitudes. Eu me esvaziei de tudo, eu só existia por você. A minha história passou a ser contada de novo, através da sua perspectiva. Você me roubou de mim. E sei que parece poético, mas na verdade é trágico. Trágico porque essa passou a ser uma relação única, onde só você existia. Onde só você importava. Não havia reciprocidade, porque eu subsistia em você. Era uma via única. Sem retorno. E acalme – se, não foi você quem escolheu assim, o erro foi meu. Você me conhece e sabe, há dias em que a intensidade engole toda a razão em mim. E eu simplesmente me jogo. Sem olhar para trás, sem olhar para baixo, sem saber se a queda vai ter muito impacto, se vou conseguir me levantar depois do arremesso. Eu me jogo! E foi assim com a gente, eu me joguei, em queda livre, sem pensar em nada, eu só queria sentir a adrenalina desse amor louco por toda vida. Sem pensar em mim, sem pensar no tombo, sem pensar na queda, sem medir o estrago. Pois bem, o chão chegou. E eu bati. Bati forte. Quebrei as pernas. Parei de respirar. Olhei para cima e vi que a superfície estava muito longe, eu havia mergulhado fundo demais e precisava de ar. A falta de mim mesma, da minha essência, começou a castigar e foi preciso chegar nesse momento. O momento de me pedir de volta. Eu preciso te deixar ir para me ter e isso é desesperadamente doloroso – mas indispensavelmente necessário.
Talvez, isso não seja um adeus. Talvez a gente ainda se encontre nas esquinas irônicas dessa vida, que adora brincar com a gente. Talvez a gente se ame de novo e seja tudo diferente. Ou talvez, não. Talvez você encontre uma pessoa melhor, que saiba te amar na medida certa, que continue existindo e te fazendo feliz. E talvez eu, de volta pra mim mesma, encontre enfim o equilíbrio de uma entrega saudável, sem dependência e subsistência no outro. Eu só quero que você procure me entender, tá doendo aqui também, se eu pudesse escolher nosso beijo jamais acabaria. Se eu pudesse escolher eu moraria dentro de você. Mas não é assim que funciona, você sabe bem. Não se pertencer é como morrer e eu ainda estou viva. Pretendo descobrir novos sonhos, pretendo sorrir outra vez. Na frente do espelho, no retrovisor do carro, no banheiro do restaurante – sozinha. Não é que ser sua tenha sido ruim, talvez possa ter sido a maior aventura da minha vida, mas é que eu não posso me dar quando não me tenho. Eu preciso ser minha antes de mais nada ou de qualquer outra coisa. Para ter paz, para ser paz, para ser mais. Ou, para um dia voltar a ser sua, sem deixar de ser minha. Para saber, para aprender, para crescer e não mais morrer – não antes do tempo determinado. Não antes de conhecer todas as estrelas do mundo. Não antes de me encontrar, me reencontrar, me recuperar – me reinventar. Antes de precisar de qualquer outra pessoa, qualquer outro sentimento, eu descobri que preciso me bastar, me pertencer. Eu preciso ser minha.