Posso falar com você um pouquinho?

Eu nunca imaginei que ia ser tão difícil sentar e escrever um texto, ainda mais sendo um texto pra você, com quem eu nunca tive problema nenhum em escrever. A verdade é que as circunstâncias hoje são diferentes das circunstâncias nas quais nós trocávamos cartas, anos atrás.

Bom, hoje se passaram uns 8 anos desde aquela época, se é que ainda posso confiar na minha memória. Eu diria que é menos, mas 8 anos atrás eu estava terminando meu ensino médio e, ao que constam as fotos da minha formatura, você estava lá. Hoje, quando eu revejo aquela foto, eu percebo como o tempo passou e como muita coisa aconteceu desde então.

Eu diria que ambos - possivelmente mais você do que eu - éramos jovens demais pras ideias que tínhamos. Sonhávamos alto, tínhamos objetivos (que, quando eu paro pra relembrar hoje, eram tão docemente bobos, divertidos), sonhávamos com uma vida simples e feliz. Até que... as coisas deram errado. Epicamente errado, eu diria.

Durante muito tempo, depois de tudo, eu sonhava em acordar um dia (frase contraditória, eu sei) e perceber que tudo aquilo era um pesadelo e que estaria tudo bem. Cheguei, perto do meu aniversário, a sonhar, por noites a fio, que no dia do meu aniversário você ia estar lá comigo novamente, como se nada houvesse acontecido ou como se tivéssemos passado por cima das nossas diferenças. Perceba o quanto eu era ingênuo em achar que muitas coisas poderiam ser simplesmente apagadas, como se as marcas deixadas por elas fossem apenas sumir assim, de um dia pro outro.

Obviamente, esse meu sonho infantil foi amargamente frustrado (amargamente para um Renan que, na época, estava começando uma vida adulta) e eu passei meu primeiro aniversário sentindo falta de alguém especial. Não consigo lembrar desse dia, mas imagino que fiz meu melhor pra camuflar qualquer tenha sido minha reação na época.

Eu devo admitir pra você hoje: eu fiquei desesperado quando terminamos. Cheguei a gravar vídeos e tudo mais, acho que você inclusive viu. Devo ter te ligado, mandado mensagens e tudo mais que eu possa imaginar, mas acho que, no fundo, eu sabia que não ia adiantar nada, mesmo que eu não entendesse o motivo, algo que só fui compreender anos mais tarde.

Avançamos um tempo, e eu estou namorando de volta. Por uma ironia do destino, minha namorada veio a ter o mesmo nome que o seu. Talvez não tenha sido exatamente ironia do destino, talvez fosse uma tentativa falha minha de recriar você em outra pessoa. Se isso te parece idiota, acredite, é. Por um tempo, eu achei que aquela pessoa seria a pessoa que ia realmente me fazer esquecer de você, a pessoa com quem eu talvez pudesse formar uma família e viver minha vida. Avançamos mais um tempo vem a primeira vez que entrei, mesmo que de passagem, de novo na sua vida, não muito tempo depois de ter terminado.

Nessa época, você talvez se lembre de algo que eu te disse. Não sei exatamente as palavras, mas eu diria que foi algo do tipo "eu estava apenas tentando encontrar você em outra pessoa". Naquela época, você me demonstrou uma clara insegurança com relação a mim, algo que eu também levei um determinado tempo para entender. Definitivamente esse nosso reencontro não terminou do jeito que eu gostaria que tivesse terminado e isso foi ótimo, pois eu realmente não estava preparado.

Algum tempo depois, o que eu não imaginava que poderia acontecer aconteceu: eu voltei com minha ex-namorada e, na minha mente, isso cimentou a ideia de que eu havia cometido uma loucura ao tentar ir atrás de você. Durante muito tempo eu fui feliz assim, pois passei por muitas experiências que eu não tinha passado com você, certamente por conta da liberdade maior que meus ex-sogros davam para minha namorada quando o assunto era eu. Durante muito tempo eu achei que aquilo era felicidade e era daquela forma que um namoro deveria ser. Até que...

Avançamos mais um tempo novamente. Dessa vez, para minha total surpresa, você veio falar comigo "sem mais nem menos". Eu fiquei genuinamente surpreso que você veio falar comigo, mesmo que pela nostalgia, pois eu achei que você tinha, de fato, 'sumido' pra sempre, ainda mais depois que eu soube que você estava namorando. Foi ótimo ter você de volta pra conversar comigo, pois você é o elo que eu tenho com uma das fases mais marcantes da minha vida - exatamente a mesma nostalgia que você talvez sentiu ao falar comigo. Conversar com você foi também uma maneira de fugir da minha realidade recente, pois você era 'de fora' do que minha vida tinha se tornado, uma pessoa com quem eu talvez pudesse compartilhar coisas que, infelizmente, eu não podia compartilhar com minha namorada.

Foi assim que eu diria que as coisas começaram a se encaixar na minha mente. Enquanto conversávamos em um dia qualquer (perceba como eu ainda sou péssimo com datas), você me disse, mesmo sem essencialmente dizer, o quanto você se sentia abandonada e triste com seu namorado - e aquilo me machucou de uma maneira que eu não sabia que poderia me machucar, pois de todas as pessoas no mundo, você é uma das que eu acredito que menos merece ser tratada com descaso. Acredito que, naquele dia, trocamos algumas pequenas coisas que nos incomodavam, como se fossemos um alivio um para o outro. Naquele momento, depois de tanto tempo, eu senti, pela primeira vez, o quão eu ainda era conectado a você, de uma forma ou de outra. Naquele momento, eu senti parte de todo aquele companheirismo, aquela confiança que eu sentia por você quando éramos mais jovens.

Não muito tempo depois, você me confessou uma coisa que ficou na minha mente desde então, mesmo que eu tivesse interpretado de uma maneira totalmente errada. Quando você me falou aquilo, aquele dia, meu coração e minha mente tiveram uma certeza, mesmo que momentânea, que você também sentia falta de mim. Talvez não falta do Renan namorado, como eu fui considerar um tempo depois, mas do Renan amigo, do Renan que talvez estivesse lá quando você precisava, do Renan que cantava Rocket Queen pra você, daquela parte do Renan que talvez fizesse sentido sentir falta. Essa sua súbita revelação me fez repensar muitas decisões que eu tomei no curso desses longos 8 anos que se passaram desde meu ano final no ensino médio. Eu acho até meio engraçado pensar nisso, pois muita coisa aconteceu nesse meio tempo: eu comecei três faculdades e me formei em uma. Mudei de emprego umas 3 ou 4 vezes. Encarei o desafio de morar sozinho - mesmo que esse desafio tenha sido relativamente fácil, pois já tinha tudo que precisava pra começar -, encarei o desafio de vender meu carro e voltar a andar de busão, me acomodei com um relacionamento que, no fim das contas, provou que talvez não tenha valido meu esforço...

Nessas repensadas, eu percebi que muitas das decisões que tomei com relação a você, especialmente quando era mais novo, foram totalmente erradas e me fizeram sentir extremamente culpado por muitas coisas, que poderiam ter sido evitadas caso eu fosse um pouquinho mais maduro e, talvez, eu não teria que estar escrevendo esse verdadeiro testamento para você hoje. Mas a vida é feita de escolhas e, uma vez que uma escolha é tomada e posta em prática, não dá pra voltar atrás, e minhas escolhas me levaram aonde estou hoje.

Acho que tudo isso foi apenas pra que eu conseguisse coragem de te falar o que mais me incomoda nisso tudo: a maneira como eu tratei você quando nós namoramos. Você talvez não se lembre, ou talvez realmente não veja da mesma forma que eu, mas eu diria que eu sinto vergonha de muita coisa que eu fiz pra você, da maneira que eu te tratei, da forma como eu falei, dos olhares raivosos que eu de dei, do ciúme obsessivo que eu tinha... Não que eu não tenha mais nenhum defeito agora, mas agora eu tenho muito mais consciência deles do que eu tinha anos atrás. Da maneira como eu vejo as coisas hoje, eu entendo aquele seu receio que você teve alguns anos atrás, quando passamos a virada do ano juntos. Eu queria que, naquela época, eu já tivesse consciência das minhas falhas do passado, como uma forma de tentar compensar por tudo aquilo de ruim que eu te fiz. Eu, a pessoa que mais queria seu sorriso, provavelmente fui uma das que menos te fez sorrir.

Acredite, tudo isso fez sentido depois daquela mensagem, naquele dia, quando você me falou que a gente se dá bem, fez com que todo esse turbilhão de informações invadisse minha cabeça e isso me deixou totalmente desnorteado. Eu senti vontade de chorar, pois muitas das situações que eu fiz você passar eu estava passando ou já havia passado e eu finalmente pude entender - talvez apenas em partes - como você se sentia. Eu senti o desespero que eu imagino que você sentiu, eu senti a dor, o sofrimento, a solidão, de estar com alguém mas ao mesmo tempo não estar com ninguém. Acho que somente ali, naquele momento, eu te entendi completamente.

Depois disso, depois que meu namoro acabou e que eu tentei falar (e depois eu fui perceber que eu provavelmente falei da pior maneira possível) que aquilo que você havia me dito estava na minha cabeça, você aparentemente terminou o seu namoro. Eu deduzi isso enquanto olhava seu perfil, em especial as coisas que você começou a curtir e ao fato de que seu status de relacionamento sumiu. Admito que as vezes dou uma 'stalkeadinha' em você, admito que leio todos os status que você coloca no seu Whats e admito que já abri e comecei mais conversas com você do que a memória pode lembrar - muitas das quais eu nunca enviei, pois sabia que nada de bom poderia sair de uma conversa que eu estava começando de cabeça quente.

De uns dias pra cá, eu tenho passado boa parte do tempo refletindo se existe alguma maneira de chegar em você e conversar sobre tudo isso que eu coloquei aqui. A única maneira que encontrei é essa, a única maneira que eu acredito que eu consigo me expressar por completo, escrevendo tudo aquilo que, na hora que eu deveria conseguir escrever, não consigo expressar. E também preciso te confessar: desde aquele fim de semana, quando conversamos, penso em você com frequência. Penso se você está bem, penso se você está feliz, penso se você pensa em mim, mesmo que seja por uma fração de segundo, penso se as pessoas estão sendo legais com você, penso se eu tomei as decisões certas ao passar tanto tempo do lado de uma pessoa que, de alguma forma, eu tentei projetar partes de você, penso se isso tudo irá fazer sentido quando (e se) você ler, penso se eu não vou soar exatamente o contrário do que eu gostaria de soar... São tantas, tantas coisas que eu queria que fossem diferentes, que eu acredito que palavras não podem mudar.

Eu não sei como eu classifico esse textão todo. Seria uma declaração? Parte de mim diz que não, parte de mim diz que sim. Seria uma confissão? Faz sentido, mas é mais do que isso. É complexo demais pra ser qualificado, assim como tudo que aconteceu no decorrer de minha vida desde quando você entrou nela até hoje. Eu espero que você use alguns minutos do seu tempo pra ler isso. Não precisa me responder, não precisa me amar, não precisa me odiar, não precisa nada, pra ser honesto. Assim como eu aprendi, e diferente do que eu fiz, você não é obrigada a fazer nada se não quiser.

Desculpe pelos gritos, desculpe pelas vezes que eu fui totalmente escroto com você, seja no telefone, seja por mensagem, seja por atitudes, seja por lá mais o que eu tenha feito. Anos atrás, nossa música (ou sua, se preferir, afinal eu 'dei' ela pra você) talvez não fosse totalmente condizente com a realidade mas hoje, eu digo com a mente clara e sem culpa, que tudo que eu quero, com esse texto, com essa confissão, com essa declaração, com todo o meu sentimento que eu coloquei aqui, é pra você, por que eu me importo.

Renan Lazarotto
Enviado por Renan Lazarotto em 08/05/2016
Reeditado em 08/05/2016
Código do texto: T5629596
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