A vida segue

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A vida segue

Para que a vida não nos mate antes da morte, precisamos ter coragem de mudar e inteligência suficiente para entender o fim de projetos que não deram certos. Alguns planos fracassam antes da execução – são idealizações que temos, mas, em razão de fatores, os mais variados, nunca acontecem; noutros casos, o malogro ocorre durante a trajetória. Por fim, existem os projetos que afundam depois de tornados reais – acontecem, por meio de muito esforço, ou não, mas decidimos ou percebemos que erramos na essência da idealização.

A vida é um projeto fadado ao fracasso. Nascemos e morreremos – isso é uma verdade absoluta que independe de crença. Desde Caronte, nunca vi ninguém retornar com a mesma essência corpórea com que fez a travessia entre os rios Esfige e Aqueronte. Refiro-me a nós, humanos e mortais. Entre o nascimento e a morte, entretanto, existe a trajetória. Aliás, existem trajetórias – incontáveis possibilidades que variam diretamente em razão da quantidade de vidas que habitam a terra. Nessa perspectiva que se funda na quantidade de habitantes, o encontro tem raízes profundas no princípio da incerteza e da entropia, considerando-se que os encontros são choques casuais. Portanto, não escolhemos quem cruzará nosso caminho – nem sabemos quem interferirá em nossas trajetórias, apresentando-nos opções que nos levarão a decidir, segundo alguns acreditam, por meio do livre arbítrio que temos.

A dimensão da nossa existência não pode submeter-se, exclusivamente, ao aforismo alea jacta est. Temos a sorte que buscamos e, numa tradução mais apurada, não somos dados que devem ser jogados à própria sorte. Não somos peças de jogo de azar. Não podemos ser lançados, simplesmente – nem a gravidade nos suporta! Quando lançados, cairemos. Portanto, quem, diante da impossibilidade de tratar dos desígnios que idealiza, fica esperando a vontade do outro, entregue à sorte casuística das conveniências de terceiros, não merece ser feliz. A felicidade exige atitude. A resolução de qualquer problema depende de ação – tudo o que se resolve por omissão repousa no silêncio, na pausa de todas as árias. O efeito do silêncio é o mesmo do som – ambos compõem a vida que reverbera nos acordes musicais ou silencia. Há, portanto, harmonia entre sons e silêncios... Infelizmente, isso não se aplica às relações humanas. Nenhum amor sobrevive ao silêncio. Nenhum sentimento suporta a angústia da espera. O amor grita, é movimento.

Estacionar. Sentar. Alimentar-se. Orientar-se... E Navegar. Sim, precisamos navegar, antes que a morte nos visite. E que nossas trajetórias infrutíferas tenham vida breve. Viver é fertilidade recorrente e cíclica. Quem, ainda em vida, assassina sentimentos, despreza a possibilidade do encontro, é perverso e sarcástico – destruidor de sonhos e construtor de monstros.

A vida segue, mas possui limites temporais. Até lá, que viver e buscar a felicidade, sem medo nem perda de tempo, seja o alvo das nossas idealizações. Em qual das etapas seremos atingidos não importa – o inadmissível é a fuga por medo de tentar.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 6 de maio de 2016.

20h00min

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Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 06/05/2016
Reeditado em 06/05/2016
Código do texto: T5627470
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