Carta para um amigo

Carta para um amigo

Eu bem que lhe devo esta carta. Não sei escrever como você escreve, cartas mágicas, mas vai lá.

Aquele teu poema em prosa curvou-me, arremessou-me às folhas de outono aqui de casa, que o vento leva, mas deixam pegadas que só as criaturas de Deus sabem reencontrar. Nessas folhas de outono, me vi lá, escrevendo, escrevendo em suas peles já esvanecidas, o sonho do viver...

Como um bicho, sim, me atirei à essas folhas, bradando em lágrimas, pelas madrugadas vazias, pelos filhos que latem aqui em casa, pelos filhos que fazem bullying comigo na escola por causa de minhas rugas que já sobressaem e eles não aceitam, pelo conhecimento que lhes quero passar e eles, como uns “ETS crivados de demônios” não nascem, não querem nascer, são “meus delírios e resquícios de noite eterna” – e me sinto sem diploma, nesse avental branco, também cuidando de navios que passam ao largo – como bem disseste.

As parcerias todas já se foram dentro do coração. O grande parceiro de hoje é Deus, e é do “Alto que me virá o socorro”.

Ainda não fechei o livro. Ainda a Luz não me encontrou. Mas seu poema em prosa encontrou-me e leu-me como uma criança que aprende as primeiras letras. E eu, essas letras, dancei sobre as folhas e antes do inverno, nelas estará escrito que todo poema que atinge a alma do outro, como o seu atingiu a minha, só pode ser sagrado.

Meu apreço e amizade