O PECADO É A ORIGINALIDADE

Delasnieve e Tahyane, amadinhas do sítio Luna & Amigos:

Muito agradecido pelo belíssimo tratamento virtual dado aos meus textos. Vocês colocaram, pelas mãos de Tahyane, creio, roupagem de gala na minha simples fala.

Sei que já não é a fala pessoal, pois que não é mais dos meus domínios. Sei que transcende ao confessionário íntimo. O meu eu já fundiu-se ao coletivo.

Assim é a poesia: voa por si, desliga-se do poema pra viver espacialmente, insere-se como piolho em costura em nossos neurônios. O outro – o irmão leitor – é quem lhe dá asas, destino. Assim é o mistério do inconsciente, o sopro da vida, do amor pelo coletivo.

Nós, os escritores, damos vida ao sonho, como vocês fizeram com os meus fantasminhas de amor e vida. Puseram roupagem bonita, vistosa, eles que eram tão pobrinhos, agora vivem para o mundo!

Dançam a valsa de Strauss nos salões de Viena, por vezes, em outras talvez bailarão o "funk" do futuro, em plena espaçonave aportada aos domínios do espaçoporto de Saturno.

Quem diria se pudesse falar assim ao Futuro?!

Só os criadores literários se podem dar a este desplante! Júlio Verne que o diga! Suas “Vinte Mil Léguas Submarinas” emergiram do fundo do mar e mareiam o espaço de Flash Gordon e Batman!

Versos se dirigem para o eterno, mas esta linguagem perene não é para o poeta enquanto vivo. Este – o poeta – é o único artista que vislumbro sem possibilidades de chegar ao sucesso durante a sua passagem por este plano terreno.

Um louco qualquer (lá por 2100) olhará para o passado e encontrará o registro de nosso tempo, de nossos destinos tão condicionados à contextura material, globalizada, tão premidos pelas injustiças e falta de liberdade de escolhas. Tanta pobreza aos olhos daquele que deseja ver...

Creio na Arte e no determinismo histórico. Meu espírito é instrumento de Amor, de entrega ao coletivo. Não tenho tempo pra avaliar o certo e o errado. O pecado é a originalidade.

O resto é de Deus, salvação para os que contam tempo.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/55960