Um louco observador de estrelas
As nuvens estão escuras. Oh, elas choram, igual chorei na sua ida. Está bem frio desde sua partida, e ver um raio de sol é tão raro quanto ver você. Ainda escuto aquela melodia triste que tocava no rádio, enquanto brigávamos e agredíamos com palavras tão duras. A melodia tocava, derramava-se sobre nós, sobre a dor, sobre corações despedaçados. Às vezes, quando já é tarde da noite, e o quarto parece vazio demais, vou no quintal, deito-me no chão e observo o céu. Agora há uma árvore, você iria adorar ela. É tão linda e triste, igual nosso amor. Observo o céu que já nem tem tanta graça, como observa-lo antes de sua ida. Lembro que nos beijamos loucamente, em frente à uma platéia gigantesca: as estrelas. Você subindo em cima de mim, dando aquele beijo no pescoço que causava tanto arrepio. Só você sabia fazer aquilo. E eu mergulhava em você, nesse mar infinito e misterioso. Nenhuma boca é doce igual a sua. Nenhuma outra "garota" consegue ser o que você foi. Deitado no gramado do quintal, nas madrugadas em que tenho a impressão de ouvir sua voz, e imagino-a do meu lado, apontando Marte, um ponto vermelho. Às vezes ouço seus sussurros e declarações, e é tão triste. É tão triste saber que você se foi, e o que restou foi um louco que ouve vozes, e não consegue esquecer seu grande amor.