A CARTA

ACARTA

Querido Amigo: (confesso que gostei da intimidade, me pareceu sincera, outra coisa nem poderia ser, pois não sei de alguém que possa ser mais amigo de nós do que nós mesmos, apesar de que, há pessoas que nem delas mesmas gostam, (mas isso já é outra história) há muito que eu queria te falar de certas coisas que me estão fazendo cócegas no gorgomil, esta protuberância a que também chamam de o pomo de Adão, (ah, Adão, Adão!... pomo que quanto mais velho ao contrário das outras frutas, mais indigesto se torna, mas isso também já é outra coisa) às vezes fico meditabundo e um tanto acrômimo, pois sabes o quanto é ruim a gente não ter com quem desabafar ou compartilhar certas confidências; umas vezes triviais até, outras vezes, nem tanto, outras ainda, mais complexas, e, estas as que mais incomodam, está visto. Pois nos remexem ainda que abscônditas nas profundezas da alma. Quando o que gostaríamos era estarmos para lá destas cuteladas que nos instigam a pensa e, tantas vezes nos deixam espicaçados pela dúvida. Mas o desassossego é parte intrínseca do ser pensante e, isso me dá um certo e relativo conforto.

Não te peço desculpas, se desculpas deveria pedir das minhas perlendas; por outro lado peço não me tomes em conta de um chatim. Como sabes não tenho o privilégio de possuir a panóplia com que poderia me defender destas escaramuças, não sou um hermeneuta, serei quando muito, ai de mim, um etnocêntrico provinciano, um anátema talvez, que a vida catapultou para um mundo tão cheio de mistérios que eu, nem ninguém jamais desvendará. Com eles tento conviver, me reservando o direito de não abdicar às contendas, a que vez por outra ainda que sem consentimento próprio, sou jungido. Bem que eu gostaria ser como o zagal, cuidar a ovelha, e levá-la com inteireza ao redil, a salvo dos lobos, sem magicar nestas coisas que a filósofos deve dizer respeito.

Sei que toda esta conversa se é que de conversa se pode chamar, afinal só eu falei. Falei e, nada te disse. Coisas dúbias, dúvidas existencialista que, de quando em vez nos acicatam a alma e, mais cedo ou mais tarde e em grau maior ou menor, a cada ser humano irão instigar: o ser e não ser, ou o ser ou não ser. Como te disse dúvidas existencialistas. Certos antago-nismos que se entrecruzam e, tão inse-paráveis são que difícil é pensar num e esquecer o outro.

Por outro lado, afianço-te que não te irei molestar mais com semelhantes cicios. Doravante tentarei delimitar-me ao meu tugúrio, pois, não terei o direito a expor minhas elucubrações, a consciências puras que por qualquer motivo ou circunstância tomem a leitura desta.

Abraça-te teu melhor amigo de sempre.

Eduardo de Almeida Farias

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 07/07/2007
Código do texto: T555518