CASINHA BRANCA

Olha, vou te passar uma espécie, porque não dizer de testemunho do que acabou de ocorrer comigo. Só dando uma prévia resumida de como cheguei até aqui, e de como ter conhecido o pai do meu filho foi o caminho para a descida até o fundo do poço da minha vida. Claro, eu saí de lá, mas quase foi a minha última morada... Acredito que todos na vida, passamos por esta fase de "fundo do poço", cada um do seu jeito, lógico. Não, não é o seu caso agora, falo por mim e somente de mim agora. O que talvez alente você um pouco é todo o conjunto da obra que vou mostrar aqui.

Meu filho foi planejado, mas com a pessoa errada e também no momento errado da minha vida, pois fazia faculdade e tive que parar. Planejei o filho e não planejei um futuro. Além de sofrer de depressão eu também sofria pressão para que ficasse melhor e isso só piorava as coisas na minha mente. Então eu queria um lar, um lugar onde não sofresse as influências hipocondríacas da minha madrinha (mãe de criação) e achava também que o meu amor de mãe pelo meu filho me tiraria da depressão. Me daria um sentido pra continuar... Acabou que fui amarrada numa trama de destruição e laços de traições.

Durante a gravidez foi tudo ótimo e maravilhoso, e não sei de que forma me sentia bem, interrompi o tratamento com os antidepressivos mas não com os ansiolíticos, mesmo sabendo dos riscos para o bebê. Mas depois que meu filho nasceu eu tive depressão pós-parto que pareceu ter voltado com toda força pra inferno nenhum colocar defeito. Fui abandonada pelo pai do meu filho em uma favela, morando numa quitinete sem portão, onde a porta nem fechava, por ter empenado. Encostava nela o carrinho de bebê do meu filho, e se acaso alguém entrasse, eu apenas iria acordar (nas noites em que o cansaço me vencia) e só. Não havia caixa d’água, ou seja, meu filho de 3 meses não pegou uma doença, inclusive de pele, por um milagre, pois quando a água assentava, ficava o barro no fundo da banheira e eu lembro como chorava quando via aquilo. Começava o outono... Perdi o único móvel que eu tinha para colocar as minhas roupas e as roupas cheirosas de meu bebê. O guarda roupas deu mofo e mofou boa parte das roupas de meu filho. Eu quase entrei em pânico ao ver perdida, parte das roupinhas dele que cuidei com tanto carinho durante a gestação. Diante de tanta pressão, solidão, e PAURA, não vi outra solução a não ser voltar a tomar os ansiolíticos que tinha parado para amamentar, e me vi forçada a parar de amamentar meu filho com apenas 3 meses de vida.

Eu não tinha TV, não tinha computador, o fogão era da casa alugada, e a geladeira minha irmã de criação me VENDEU. Nem celular para uma emergência eu tinha, logo que fui pra lá. Eu só queria um lugar... desde o início eu só queria um lugar de aconchego, de paz, onde eu pudesse viver a minha vida de acordo com os meus princípios sem sofrer as influências impostas ou os valores de vida de terceiros, incluindo, meus padrinhos e principalmente minha madrinha que sempre foi muito controladora. Eu me lancei em queda livre, pro tudo ou nada para me ver livre (de forma errada) hoje eu reconheço e muito. Inclusive, hoje ainda sofro as consequências deste ato que ecoam na minha linha do tempo.

Lembro-me do dia em que saí da casa dos meus padrinhos, que olhei para o céu com os olhos cheios de lágrimas e jurei pra mim mesma que nunca mais voltaria a morar ali, pois seria andar pra trás... Regressar ao ponto da origem dos meus problemas de saúde. Então, de um jeito ou de outro eu tinha que caminhar de forma diferente. Com a ajuda de Deus eu consegui em um último momento sair daquele lugar e alugar a casa onde morei por cinco anos. Digo isso, porque era o último dia para entregar a casa e a dona da nova casa não queria alugar para quem tivesse criança, mas ela considerou a mim e a meu filho. A dona foi uma mãe pra mim... Quando me mudei, viu que eu nada tinha de bens materias e a casa ecoava quando alguém falava dentro, de tão vazia que era, mesmo eu estando já morando lá. Me deu muitas coisas... Uma estranha me DEU coisas e um sofá e minha irmã de criação e me VENDEU uma geladeira. Comprei coisas de segunda mão, me enfiei em empréstimos altos pra não ter que depender dos outros. E lembro como se fosse hoje, ela dizendo pra mim que esperava que eu morasse ali por uns cinco anos. Eu ri e inocentemente respondi que esperava sair antes. Eu esperava neste meio tempo conhecer alguém sabe? E conheci alguns homens sim... Mas nenhum deu certo e foram bem poucos mesmo, pois eu pensava muito no meu filho e temia que ele se apegasse a alguma figura masculina que depois pudesse nos deixar. Só um morou comigo e me procura até hoje arrependido de ter me deixado.

Quando entrei naquela casa (que pra mim era grande e linda), mais uma vez eu jurei pra mim mesma que não sairia dali pra ir pra outro aluguel, que só sairia dali pra ir pra minha casa definitiva. E exatos 5 anos passados (boca abençoada da dona da casa) ela pediu a casa sem eu esperar. Precisava de pelo menos mais um ano, pois os empréstimos terminariam agora, este mês de fevereiro. Três empréstimos altos no meu contracheque. Tive três alternativas: casa dos meus padrinhos, outro aluguel ou vir pra cá, morar com aquele que me apunhalou as costas (mas que hoje sofre as consequências dos seus atos). Está definhando em sua saúde cada dia que passa. Eu passei muitos maus pedaços, mas nunca exerci a alienação parental sobre o meu filho, a partir do momento em que o pai resolveu ser pelo menos isso, quando viu a morte na cara dele.

Hoje minha realidade é esta. Vivo aqui, e tenho que correr contra o tempo, pois dividir o mesmo teto com uma caixinha de surpresas ruins é no mínimo peculiar. Entre o espeto e a brasa, optei morar um ano aqui com ele até eu encontrar um imóvel com calma. Fiz esta não tão menos pior que a outra opção de morar com meus padrinhos, porque aqui eu ainda me sinto viva e faço as coisas no meu tempo e do meu jeito. Com minha madrinha se eu falar um “A” que magoe, a cúpula toda se reúne para julgar a ré. Aqui pelo menos todos temos liberdade de expressão, mesmo sendo tão diferentes. Isso foi a força no pêndulo que me fez decidir de vez vir pra cá.

Eu sempre fui uma pessoa de muita fé, pouco religiosa, mas de fé. Confio na força criadora, confio que é dotada de inteligência, sabedoria e de amor sim, pois este me constrange sempre quando eu menos espero e mais necessito. Chamo esta força de Deus, cada um chama do que achar melhor, mas eu chamo de Deus. E a este Deus agora, depois de falar com você, fui orar, aqui na cozinha. Coração se angustiava cada vez mais quando procurava as casas nos sites. Meus olhos se encheram de lágrimas a medida que vinham à mente, as lembranças dos temores que me assombraram quando não conseguia reclinar a cabeça a noite no travesseiro, por medo de alguém entrar na casa e fazer mal a mim e a meu filho que só tinha 3 meses na época. De quando pegava no sono, acordava por qualquer ruído, inclusive de um gambá enorme que ficava em cima das telhas da casa. A ideia de não ter pra onde ir me apavora, me tira o chão, me desnorteia...

Meu filho hoje é tudo pra mim, é quem me dá forças, é o motivo que me fez sair da depressão, enfrentar muitos medos meus, e pessoas também. Eu faria tudo de novo para ter o filho que tenho em meus braços, mas se eu ver algo de ruim acontecer a ele por um erro meu, eu serei puro arrependimento pro resto da minha existência. Não é só uma casa, é um lugar, é um ambiente, é ter condições, é ter amigos perto... É ter boa escola... Quanto custa tudo isso? Com certeza o que eu tenho não pode pagar. E orei a Deus pedindo sua graça e orientação mais uma vez, pois com certeza foi sua poderosa mão que me sustentou até respiração que acabei de dar. Digo isto, por vários motivos e muitos outros que eu poderia relatar. Incluindo o fato do meu filho não ter nascido com nenhuma sequela física e nem veio a desenvolver nenhum psicológica agora com seus 6 anos. Pelo contrário, quase não fica doente, e não tem doença nenhuma, nem do tipo respiratória.

Então fui ver um vídeo no You Tube do Pe. Fábio de Melo no qual gosto de suas mensagens. E aleatoriamente, apenas pelo título escolhi este: www.youtube.com/watch?v=lB_swIrVLro Quando puder assista, pois acho que tem um pouco a ver com seu caso também. Entendi como uma resposta, ainda meio turva aos meus olhos humanos, sobre o que Deus quis me responder. Mas, coincidência não foi.

As citações do vídeo que mais me tocaram:

“Quando estamos conectados a um motivo a gente não morre” .

“Só no aconchego é que enfrentamos bem o nosso desconforto”.

Obrigada pela sua atenção e espero que tenha sido edificado como eu fui.

(Aqui no site do Recanto das Letras, só entenderá o título da carta, quem assistir pelo menos o início do vídeo citado na mesma).