Felicidade

Ana acordou e mil pensamentos caíram do décimo sexto andar. Meio zonza ainda lembranças começaram a vagar. Foi um sonho e não uma carta.

Nesse sonho havia uma mulher parda com um sorriso lindo. Seus olhos exalavam amor/carinho. Ela me mostrava um ambiente com algumas prateleiras, livros e cadeiras. Pareceu-me um ambiente confortável e seguro. Me sentia segura com ela.

De repente mudamos de ambiente. Agora havia uma menina rabiscando folhas em branco. Pareceu-me feliz. Ela tinha cabelos castanhos, no ombro, desenhava tudo que via ao seu redor. Nada lhe tirava a concentração.

A mulher que me acompanhava apontou o dedo em direção a garota e disse:

_Essa é você Ana!

Meus olhos ficaram admirados e encontraram o da menina. Ela sorriu pra mim e sem que nada houvesse sido pronunciado verbalmente disse que me aprovava. Eu era exatamente o que deveria ser. Ela estava orgulhosa da adulta que via a sua frente.

A mulher me fitou mostrando-me um carro e os braços da menina marcados, como uma queimadura.

_O que houve com ela?

_Queimou-se no carro Ana.

_Você contou aos pais dela sobre isso?

Fiquei parada com uma sensação de medo. Sabia que eles falariam algo negativo ou de repente colocassem ela de castigo.

_Não, não falei Ana. Foi apenas uma pequena queimadura.

Amorosamente sorriu depois da explicação.

Percebi que ainda estava presa ao medo. Medo do que a mim foi condicionado a vida toda. Evitar erros, não pecar, não infringir regras. Não que tudo isso seja correto. Mas, a cobrança era muito intensa e pesada.

Foi um sonho. Não foi uma carta.

Foi um passeio a algum lugar onde passado e futuro encontram-se e fazem um trato. Ser feliz. Sentir-se aprovada, aceitar-se e acreditar que dei o melhor de mim.

Foi um sonho ao qual me senti depois de muitos anos com a sensação de poder ser amada, sem que haja explicações. Amada de forma simples, sem grandes citações ou reflexões a respeito. Amada por merecer ser amada.

De repente faltava em sua vida aceitação Ana. E foi isso que aquela mulher me mostrou.

Não, não foi um sonho. É a realidade de um novo tempo em minha vida.

Ana Liszt
Enviado por Ana Liszt em 21/02/2016
Código do texto: T5550963
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