À SOMBRA DOS CARVALHOS DE MÁLAGA

Hoje acordei com saudade de nós dois. Abri a janela que dá para o mundo e me encolhi à sombra dos carvalhos de Málaga. De todas as cidades testemunhas da minha mágoa, uma guarda a doce espera que me aflige. Coberta de nevoa e mistérios, de certa forma ainda virgem, Málaga é toda Andaluzia. Fincada na costa sul do Mediterrâneo porque originou-se de uma colônia grega na antiguidade, a cidade tem raiz profunda porque fundada por antigos navegadores fenícios. A lembrança de nós arde mais triste que um triste navegante sem proa ou mar. Hoje acordei com saudades de nós dois à sombra dos carvalhos de Málaga.

Lá, as árvores nos montes são mais verdade que os pinheiros daqui. As árvores de Málaga são Azinheiras e Sobreiros e Carvalhos. Entre os pinheiros originalmente cresciam as Alfarrobeiras também conhecidas como pão-de-João, as Figueira de Pitágoras ou do Egito. Árvores confidentes envelhecem juntas mas são jovens criaturas se comparadas à crosta enferrujada em que meterem raízes.

Toda a terra, em Málaga, está coberta por matagal. Anotar nomes foi nossa brincadeira por muito tempo. Colhíamos "lentisco" como se Lentisco fosse. Você observava que “aroeira” é o mesmo do “alfostigueiro”. Você dizia, eu anotava. Tudo cresce para o sol no meio das Palmas de Ventilador, dos Loendros, dos Medronheiros, das Murtas, das Estevas e do Zimbro espinhosa.

Hoje, como se tivesse aberto a janela que dá para o mundo, senti a brisa sorrateira carregar-me para o alto das copas. Deixei-me levar junto do aroma de alecrim, de tomilho e da lavanda. Mal equilibrado sobre tudo que vejo, recordo as oliveiras selvagens que estavam por toda parte e hoje, em menor número, que as áreas cultivadas de amendoeiras. Lembro-me de termos traçado itinerário ligando o sul da França ao norte da Espanha. Levaríamos nos pés areia do Mediterrâneo por toda parte. Na volta, da península saltaríamos sobre o Atlântico e o regresso seria história e poesia à sombra dos carvalhos daqui. Mas você ficou em Málaga, escolheu ficar à sombra dos carvalhos de Málaga.

Inebriado, do alto das copas regresso para o lado de dentro da janela que abri pensando ver o mundo só porque estava com saudade de nós dois à sombra dos Carvalhos de Málaga.

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 19/02/2016
Reeditado em 19/02/2016
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