Despedida do Primeiro Amor.
Se preocupe não, moço. Não é você. Não sou eu.
"Não tenho jeito para esse negócio de amor".
Não tinha. Você me ensinou.
Acho lindo, acho lindo nas canções que você e eu
Amamos juntos.
Mas eu não sabia, você me ensinou.
É que eu não tenho muito o que dar. Não rendo.
Não sei telefonar à noite, não sustento conversas
Sem assuntos, diálogos sem tema.
Sou eu. Vazia, triste, estranha.
Mas você me ensinou do silêncio confortável
Mais valioso que qualquer conversa, mas não
Sua companhia. Esta é doce. E eu aprendi.
Queria ter certeza e amor que durassem para sempre.
Mas não. Comigo ainda não é assim.
Meu amor vem e vai. Começa agora,
Acaba amanhã, volta mais tarde.
O seu não. O seu permanece.
Ser de ninguém é nosso único jeito de ser.
Sou dessa gente que precisa ser só, mesmo
Numa multidão. E você não.
O sol que bate agora recende aqui dentro
Uma saudade dolorida do que já foi e do que
Sequer aconteceu. Minha cidade perdida, minha
Casa na infância, uma lambreta laranja
Que me levava a passear no quarteirão, o carro velho
De meu pai, minha mãe que custa voltar do
Trabalho, a alegria das minhas avós, você...
Essa saudade, para mim, é o que mais se
Parece com o que tanta gente chama de
Amor.
É o que eu tenho.
É tão sua que mal sobra pra mim.
É um foguinho de palha que eu tento alimentar
E espalhar. Foi assim que eu aprendi.
Ao resto, meu amor será pequeno.
É uma saudade que dói mansa, um fio de
Água cristalina, um cheiro distante, um raio morno
De luz quase se apagando. Mas é o suficiente.
Dá para dois.
Mas você merece mais. Muito mais do que isso.
Merece amor inteiro, forte, amor de casa grande,
Segura, quintal na frente, jardins e flores, pés
De jabuticaba, caqui, laranja lima e limão galego.
Na mesa da cozinha, biscoitinhos bem-casados
E leites iogurtados de morango e côco.
Para a janta, fettuccine feito à mão.
Foi bom, moço. Foi lindo. Você fica além
De toda expectativa.
Precisamos ir adiante, abrir o portão e liberar
A liberdade que vive dentro de nós.
Afinal, nós nós trocamos pela incerteza da
Liberdade eterna.
E essa sempre foi a melhor escolha.