POESIA E CONFRATERNIDADE

Porto Alegre, RS, 10/02/2016, quarta-feira.

Prezado poetamigo Francisco de Assis!

Em primeiro lugar, seguem o meus desejos de que estejas bem de saúde. Faço questão de “manuscrever” esta à minha moda, homenageando e retribuindo as tuas reiteradas atenções. Peço escusas por não fazê-la à mão, como as que costumo receber de tua pessoa. Como já bem o sabes – eis que já referi este assunto em missiva anterior – há mais de 14 anos utilizo a conversação internética via e-mail e, mais recentemente, pelo “in box” do Facebook. Creio que já nem sei mais grafar com desenvoltura e gozo utilizando caneta ou o lápis.

Sempre estou envolvido com a informática, visto ter muita ocupação cotidiana, digitando as peças textuais com a utilização da “net” para a expedição dos trabalhos aos vários destinatários, tanto na advocacia como nos trabalhos de formatação dos textos literários, em prosa e verso. Escrevo por compulsão, assentado na emoção momentânea, por esta razão percebo que tenho de revisar muito os textos, especialmente os recém-criados.

Para mim, entendo o fenômeno da “inspiração” ou da “espontaneidade” – aquela centelha originária desencadeadora do processo do criar – apenas como o primeiro momento da criação literária. Portanto, como poeta/autor, jamais jogo na rua o meu poema ou um texto em prosa, sem as necessárias e várias revisões. Cumpridas todas essas etapas é que a peça textual vai tomando o seu formato (ou forma) definitivo. A fim de teres uma ideia mais objetiva, tenho um poema cujo título é “Dádiva e Colheita”, que, tendo obtido publicação em 06 (seis) coletâneas, chegou ao seu formato definitivo depois de 24 (vinte e quatro) anos de vivo processo criativo, quando da publicação ocorrida em “BULA DE REMÉDIO”, meu último livro editado pela Caravela, de Porto Alegre/RS, em 2011. Um exemplar deste já deve estar no teu acervo pessoal, já que o enviei lá por 2012. Peço que confiras o recebimento desta obra. Acaso não tenha chegado ao destino, eu a remeterei novamente, com alegria e apreço.

Bem, para mim, no caso de um poema, por concepção e modo de ver a Poética, este nunca está pronto... Porque o poema (com Poesia) é matéria viva, portanto um cadinho sempre em ebulição conceptual para que possa lavrá-lo cada vez melhor, objetivando a beleza e a veracidade, mesmo que o poema seja o singular território da farsa e da fantasia – curiosamente.

Ressalto que há poemas (com Poesia) e outros em que a Poesia não comparece, espécimes sem Poesia, portanto. Estes, em regra, são embriões textuais aos quais poderiam ter sido aportados elementos poéticos que o salvariam esteticamente, acaso tivesse sido feita a “transpiração” sobre a primeira e original versão, aquela que temos como embrionária... O aporte da comumente chamada “linguagem figurada” ou “figuras de linguagem” neste embrião pretensamente poético, pode ser uma saída esteticamente válida, em regra geral com a utilização das metáforas de palavra ou as preciosas metáforas de imagem. Estas últimas conformam a singular poética dos grandes mestres do ofício e tem extraordinário efeito quanto à prática e à sugestão ínsita ou imanente à Poesia.

Tenho para com os meus botões de analista literário, que um poema ou qualquer peça poética em qualquer formato (como no soneto, no haicai ou na trova literária, por exemplo), se não se fizerem presentes as expressões metafóricas, não se configurará a Poesia como gênero literário – aquele que nunca DIZ, apenas SUGERE, devido à linguagem em sentido conotativo assentada na codificação textual apresentada na peça poética.

Na contemporaneidade, a maioria dos versos ou textos (pretensos poemas ao teor da cabeça do autor), no rigor da verdade estética, são meros VERSOS (sem Poesia), reitero... Nos territórios do âmbito lírico-amoroso, alguns exemplares com apreciável doçura, ideias derramadas e com muita utilização de versos que pouco ou nada dizem poeticamente, são os mais encontráveis em todo o tipo de publicação, seja impressa, virtual (na internet) ou em peças de arte plástica, em que há a congeminação de texto e ilustrações gráficas ou digitais.

Bem, o poema contemporâneo – o exemplar do séc. XXI – é expressão de síntese, de economia vocabular e perceptível ritmo. Tem de dizer muito em poucos versos, com perceptível e singular RITMO, em que pode coincidir a utilização (ou não) de rimas, como ocorria nos espécimes da poesia do classicismo. Uma boa rimação, no final de cada verso, pode ajudar em muito, mas não assegura ritmicidade total ao poema.

É uma lástima que ainda não estejas fazendo uso da virtualidade internética, porque este e outros assuntos de temática similar estão publicados no Recanto das Letras, em minha página, na modalidade “Teoria Literária”. O referido site é específico para escritores de todos os níveis ou patamares de experimentação, podendo ser acessado em www.recantodasletras.com.br , bastando que o autor desejoso de participar faça o seu cadastro no mesmo, gratuitamente. É, atualmente, o mais importante portal de lusografia e de lusofonia, tendo em vista que há, também, a publicação de áudios, no site em referência.

No momento, tenho lá no Recanto das Letras um total de 2.487 textos, nas mais variadas modalidades literárias, em prosa e verso, totalizando 682.766 acessos, contados a partir de 09/06/2005, quando ingressei no site para publicar e popularizar os meus textos. São, portanto, mais de 10 anos de publicação ininterrupta, no RL.

http://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks é o endereço eletrônico para o acesso à minha página. Caso tenhas interesse, podes conferir... Acho que seria de todo aconselhável, especialmente para que possas divulgar os assuntos pertinentes à Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Goiânia, que presides com zelo e dedicação há tantos anos.

Bem, por certo imaginando que teremos novos elementos para futuras comunicações, encerro este tópico em que predominou a Teoria Literária, a teor de minhas concepções estéticas.

Quero, com a expedição desta, louvar e agradecer as reiteradas remessas da publicação informativa e literária, o boletim FRANCISNEWS, que sempre contém material interessante e o qual leio com muito gosto, e ao qual nem sempre tenho dado conta de agradecer. Gostaria de continuar recebendo a publicação em voga.

Acuso o recebimento, em data de 22/01 passado, da coletânea “LA NUOVA VITA”; Trento: Italia, U. E., Edizioni Universum, 2015, 72 páginas. Em português, “A VIDA NOVA”, edição bilíngue (português e italiano) na qual está registrada a tua participação em versos, bem como a de Giovanni Campisi, poeta, revisor, tradutor e editor do livro em tela, presente, também na obra os versos do poeta Vieira Vivo. Envio os meus mais sinceros cumprimentos ao Giovanni, a ti e ao Vieira. É muito bom sinal quando a nossa obra amplia-se no universo de comunicação, num outro idioma que não o original, ainda mais, no caso, numa das línguas de vertente neolatina.

Causa-me espécie que, mercê da edição singela, quase artesanal, apareça o preço (venda?) a 15,90 euros por exemplar, o que demonstra que tanto na Itália quanto no Brasil o preço das publicações impressas é muito alto. Estarão os leitores dispostos a pagar o dito preço? Terá o público italiano poder aquisitivo para pagar o equivalente a R$ 70,50 (setenta reais e cinquenta centavos), com o euro cotado (hoje) a R$ 4,434? Também me espanto que, numa economia globalizada, apareça preço no exemplar.

Quanto à obra, me surpreende que também não conste a TIRAGEM da coletânea, pois em todas as obras que conheço, editadas no estrangeiro, é obrigatório aparecer o número de exemplares de cada impressão...

Salta aos olhos que o poeta/editor, em vez dar uma visualização com maior amplitude, comete um lapso muito comum aos escribas: publica um verso seu na contracapa, e nada de ressaltar a poesia de Francisco de Assis ou a de Vieira Vivo, que devem ter repartido os custos da publicação.

Destarte, o importante é que houve a edição, e esta merece loas e louvações pela ação editorial.

Tudo o que ora faço valer como observador atento é somente para possível correção nas próximas edições...

Aproveito para te enviar, como anexo a estas considerações de amigo, uma ponchada de livros e coletâneas de poemas, na mais pura intenção de te homenagear e agradecer pela reiteração das missivas em mim aportadas, no curso destes mais de 10 (dez) anos de correspondência.

Paz profunda!

Abraços do poetinha Joaquim Moncks.