Dias de Luta
1994 - 2016. - Eu era somente um doente que era tratado como tal, na época de colégio e, lutava contra o preconceito das pessoas. Perdi mulheres lindas, perdi amigos, perdi drogas, perdi Rock N' Roll.
2016: Hoje, já me sinto velho e acabado. Não tenho mais saco para lutar contra a sociedade alienada e, a sociedade que se diz normal, mas é anormal.
Fran, eu te liguei pra dizer que agora sou normal e que, nós podemos ficar juntos sem a pressão de ninguém.
É óbvio, com os remédios e com os cigarros, eu não vou parar. E se me chamarem para chapar, eu vou. E também, não pararei de beber.
Mas pra conseguir mais espaço no mercado editorial, ser aceito pelo mundo e, ser aceito por você, larguei anos de luta.
E já são duas vezes que faço isso pra você me querer, moça.
A minha segunda cirurgia, era pra ser com 14 anos, mas com medo de você descobrir, continuei com a perna torta e, só fui operar 4 anos depois.
Não quero perder o meu futuro, quero você, quero drogas e, Rock N' Roll. - E é óbvio, mais respeito na literatura e nas ruas.
Quando você sai do ''Médico do Sílvio Santos'', você rasga o atestado de:
- Tonzinho do Teleton;
- Louco;
- Doente;
- Deficiente;
- Atraso na existência.
Nem eu, e nem você, somos tão jovens assim, você já é mãe.
E sua filha fala. - Falou comigo, disse o nome inteiro e, tudo.
Disse que estava sozinha e, falou que a sua mãe ia voltar logo. E ainda, me mandou um beijinho.
É, Franzinha, quem diria... Uma menina que eu conheci, escrota pra caralho, com 12 anos, iria ser mãe.
E de uma menina mais educada que a porra da mãe.
Deve ter puxado o porra do Diego, feio pra caralho, mas gente boa.
Quando eu te liguei, ele nem reclamou e nem nada. - Foi de boa.
Porém, depois daquela ligação, que era um pedido de ajuda, não um pedido pra ficar. - Fiquei com fama de Talarico.
Eu não falei o meu nome, porque se eu falasse que era o Victor, você iria ficar putaça e, vir aqui em casa me bater.
A menina deve ter falado:
- Ligou um menino aqui atrás de você, mãe. Mas ele nem disse o nome.
Você deve ter falado:
- Toma cuidado, Isa! Pode ser um pedófilo.
Você como mãe, é como minha mãe. - Louca pra caralho.
E você deve ter desconfiado que era eu, pois já te liguei sem falar o nome e, muitas vezes desligando na cara, principalmente, quando sua mãe atendia. Ou, me mandavam ir pro inferno.
O seu telefone, é a uma das únicas coisas que eu sei de cor. Não sei, nem o de casa.
E eu, fui o único cara pra quem você deu o telefone certo, porque o nosso prefixo é o mesmo. - E havia mudado, naquela época.
Senão fosse isso, você daria o telefone errado, como fez com o Dimão e, com o Rodrigo.
Lembro até hoje, daquele dia:
- Você pode me dar o seu telefone?
- É...
- Não me enrola, não, caralho! O prefixo lá de casa, também mudou!
- Eu não ia te enrolar. Zoeira, ia sim.
É, pois é, eu posso esquecer o que eu comi no almoço de ontem, mas não me esqueço de você. - E olha, que eu tentei.
Pois, um mongoloide, não te merece. Ainda mais eu, que tomo antidepressivos.
Sou o babado, que fala certo. - Um dos únicos, pois, se você mete o pau nos meus antidepressivos, imagine, se você soubesse o que tem lá na porra da Ortopedista e na Fisiatra?
Você iria me abandonar. - Mas agora, estou livre. Se você me abandonar, caso fique, não será mais por dó.
Não tenha medo de me machucar. - Eu aguento.
Eu larguei tudo o que me dava medo de conquistar você e outras mulheres, por você, também. - Também, não quer dizer, principalmente.
Se você esperava um texto ao estilo Zack Magiezi, perdeu o seu tempo. Você não é prioridade aqui mais.
Porém, você é a mulher que eu sempre amei, que cortei os meus pulsos, que abandonei tudo para ver-te aceitar-me.
Continuarei com as drogas, porém, larguei tudo o que me afligia, pra ser aceito pelas pessoas e, por você.
A minha mãe, tá puta. - Mas me compreendeu.
Ela até me perguntou:
- Você acha que a Franciele vai te aceitar agora?
- ....
- É, não, é?
- É!
- Larga de ser besta, menino! Ela e as pessoas tem de te aceitar do jeito que você é.
- Não. Elas não são obrigadas, mãe!
Se você não ficar comigo, tudo bem. - Tudo certo.
Pelo menos, não vai ser por dó e nem por medo de me machucar.
E vou ter mais coragem de chegar numa menina, que tinha nojo de mim no passado e que agora, me acha bonito.
Pois, não sou mais deficiente!