MISSIVA PARA A MAMÃE - NOVE ANOS DE AUSÊNCIA
Mamãe,
29 de janeiro de 2016. Acabamos de participar de uma missa em sua homenagem, aqui na Paróquia de São João Bosco, lugar de que gostava tanto e sempre vinha. Quem diria? Completam hoje, exatamente, nove anos que a senhora nos deixou. Um dia de muita chuva. Tive vontade de dividir o meu sentimento com alguém. Pensei em mandar uma mensagem para um amigo próximo ou uma pessoa de nossa família. Não. Resolvi mandar esta mensagem para a senhora, mamãe, porque sei que não morreu. Apenas transferiu-se daqui, deste plano material. Está agora ocupando uma morada especial que o Papai do Céu lhe reservou.
Sabe, mamãe, chorei muito ontem, à noite, e hoje não consigo parar de lembrar-me da senhora, o tempo todo. A chuva constante de janeiro de 2007 me traz muitas recordações. No leito do hospital, sofrendo muito... Sem poder ajudá-la, mantinha meus olhos fixos na senhora. Não me esqueço de que, poucos dias antes de sua partida, sua mão quentinha apertava a minha, como se quisesse me dizer alguma coisa. Quem sabe dizer que estava com medo de partir... Quando não mais sentia esse carinho, percebi que estava nos deixando.
Mamãe, como disse de princípio, tive uma vontade enorme de conversar com alguém, falar da senhora. Por isso resolvi lhe escrever para contar-lhe o que aconteceu durante todo esse tempo de ausência. Sabe, sua casinha, lá na Rua Almenara, é uma referência especial para mim, um local de grandes recordações. Às vezes, passo por lá e enxergo a senhora sentadinha no sofá da sala ou naquele sofazinho do seu quarto. Nas mãos, o terço, os livrinhos de orações como o do Sagado Coração de Jesus, São João Bosco, São Geraldo, Nossa Senhora Aparecida, dentre tantos outros. Quando eu chegava, a senhora levantava os olhos e dizia: “Uai, é você que está aí? Ô, João, o Luiz tá aí.” É que o papai estava lá para os fundos da casa. Bença, mãe, bença, pai. Lembra-se? Essa saudação não podia faltar. Pois é, mamãe, que vontade de que tudo voltasse a ser como antes.
Fico imaginando: Qual seria sua reação se pudesse dar uma chegadinha aqui, hoje. Tenho certeza de que ficaria observando tudo e todos e faria muitas perguntas. Muitas coisas mudaram, sabe. Nada tão significante. A não ser o vazio que deixou entre nós. Essa mudança, sim, faz diferença. Mas vamos conversar um pouco?
Mãe, a nossa família, a quem você dedicou sua vida inteira, continua firme. Meus filhos, acredite, já estão bem maduros. O mais moço, o Marcelo completou 33 anos. O Gustavo, seu afilhado de batismo, no dia 10 de março completará 38. Luigi, o mais velho, já chegou aos 40. Graças a Deus, todos com saúde, trabalhando e andando com suas próprias pernas. E os bisnetos? Quando a senhora foi embora, eram dois daqui de casa: o Gustavinho e o Luiginho. O primeiro já está com dezessete e o segundo com treze, quase quatorze. A senhora se lembra bem deles. A Marcella, do Gustavo, nasceu em 2008, um ano depois de sua partida. Mostro a eles, sempre, suas fotos e as do papai. Vira e mexe, estamos assistindo a alguns vídeos, nos quais a senhora e o papai aparecem. Assistimos aos filmes porque eles nos passam a impressão de que a senhora ainda está aqui. É uma forma de matar a saudade.
Sei que gostaria de saber notícias dos outros netos: do Juninho, da Silvana, do Eduardo, filhos do Nini. A família deles já cresceu bastante. O Juninho lhe deu outro bisneto, o Bernardo. A Silvânia, três bisnetas. O Henrique, do Marinho, ainda não quis se casar. A Kátia, do Geraldo, também não. O Mauricinho já lhe deu um casal de bisnetos. A Maria Eduarda e o João Pedro. A Silvinha casou-se em 2008, com o Renato. A senhora o conheceu. Ainda não têm filhos. A Andrea, do Fidêncio, lhe deu mais duas bisnetas. A Rosilene também lhe deu uma bisneta, ainda quando a senhora estava aqui. Acredite ainda: daqui a dois meses, outro bisneto vai chegar. Também se chamará João Pedro, filho do Gustavo. Gostou das novidades? Afinal, tivemos que dar continuidade à família que a senhora e o papai construíram com tanto amor.
Outras novidades ainda tenho para lhe contar. De seu grupo familiar, já se foram quase todos. Ultimamente partiram a Cecela, sua irmã do coração; e o tio Bernardino também colocou o pé na estrada e não mais se encontra entre nós. Temos ainda, conosco, seus irmãos queridos: os tios Cici, Zezé Faria e Ladim. A tia Cacilda também está por aqui, beirando os 90 anos. Já pensou?
Como a senhora pode perceber, novidades é que não faltam. Não quero cansá-la. Sei que está repousando em paz. Por último, quero lhe dizer que, ao colocar a minha cabeça no travesseiro, sim naquele travesseiro que era seu, agradeço a Deus pelo fato de Ele ter me dado a senhora como mãe. Claro que o papai também. Mas, hoje, estou conversando especialmente com a senhora.
Apesar de todas as dificuldades, dos sofrimentos por que temos que passar, que fazem parte da vida, quero lhe dizer mais uma vez que me orgulho profundamente de ser seu filho, de carregar comigo os seus exemplos de honestidade, honradez, sinceridade... Imagina o quanto tudo isso significa para mim e para as pessoas com as quais convivo.
Mamãe, beijo seu coração, sua alma bondosa e aproveito para dizer mais uma vez: EU A AMO DEMAIS. Se puder, dê um abraço no papai.
Com amor e muita saudade, despeço-me da senhora.
LUIZ GONZAGA