JOIO E TRIGO
(CARTAS AO CAMARADA OLEV – III)
Mutum, 19 de janeiro de 2016
Caro camarada Olev
Começo essa missiva que vos envio com uma daquelas frases de efeito que costumo formular, e que venho guardando em uma pastinha no meu computador com o título de Clauditos & Claudices. Quem sabe um dia eu publico essa coletânea de aforismos com o título da pasta. Bem, esse é mais um dos tantos projetos literários que tenho.
Minha frase é: “Todos os politiqueiros, do congresso nacional às câmaras municipais, são responsáveis pela chacina dos nossos sonhos”. Ou seja, “Всички политици, Националния конгрес на общинските съвети са отговорни за избиването на нашите мечти”.
Sei que você, cientista político aí em Burgas, vai me perguntar pelos projetos políticos. Não sou mais assim tão militante de rua, como você sabe. Ora, caro amigo Dimitri, digamos que faço política com as letras, apesar das dificuldades. Você sabe que sou formado em Ciências Biológicas. Logo, tenho dificuldades com a gramática. Essa última flor de Lácio que tanto me embriaga, às vezes me deixa de porre.
Agradeço pelos livros que você me enviou. São três excelentes livros. Espero que já tenha, pelo menos, folheado os que eu te enviei.
Mas caro amigo, não poderia eu deixar de falar da política em si, ou melhor, da politicagem que toma conta do Brasil. Percebe-se que a lama da mineradora no Rio Doce é um desastre literal que serve de metáfora para o que temos na política do Brasil. Dizia Renato Russo em uma das músicas da Legião Urbana: É sujeira para todo lado.
Pelo que você me relata, aí na Bulgária não é diferente. Então como vamos formatar um sistema político que seja imune à corrupção, suborno, nepotismo e outras patologias da política?
Deve haver algum jeito. Não podemos admitir estarmos condenados ao nosso próprio egoísmo, egocentrismo, que somos eternos assassinos de sonhos coletivos. Não podemos aceitar que somos isso, que o joio sempre vai crescer mais que o trigo.
Seja em religiosos, seja em ateus, a fé no ser humano tem que existir. Eu sigo aqui, nos sertões do leste, a viver em meu lar minha doce utopia de pensar que um dia, um belo dia, nós vamos acertar. Vamos encontrar um meio de educar, desde o útero, nossas crianças para viverem em um mundo diferente. Um mundo onde a política goze de perfeita saúde e seja cercada de pessoas que estão vigilantes para não deixar que nenhuma patologia avance pelas células do sistema.
Sei que tanto eu, quanto você, acreditamos que o mundo caminha, ainda que capenga, para o socialismo. O reino de liberdade se traduz em uma sociedade socialista, e jamais em uma sociedade capitalista. No entanto, atores sociais vão fazendo o papel que lhes cabe esse teatro da pós-modernidade.
Dimitri, leia meus escritos, se puder, no site Recanto das Letras. Tenho flertado com os chamados contos de terror para exercitar um pouco a maldade humana em forma de literatura. E aí eu penso que o joio, só para usar a metáfora de Jesus, deveria ser sublimado em arte. A literatura de Terror, que jamais chamarei de literatura negra, e a música como Death Metal, que eu curto, são apenas expressões artísticas que sublimam esse lado da alma, para que, nas ações concretas, aflore o trigo. O que há de bondade em cada mulher e em cada homem.
Tempos atrás, eu terminaria essa carta dizendo, saudações petistas. Hoje eu prefiro terminar dizendo, saudações utópicas.
Fraternalmente, um abraço,
Camarada Mendes