UM PRESENTE QUE ME TOCOU A ALMA
Hoje eu estava aqui pensando.
É pai. Estava aqui pensando num presente que você me deu.
Era meu aniversário e vocês chegaram de viagem.
Você e a mãe vieram me cumprimentar.
Você costumava dizer que gostava das comemorações de aniversário em minha casa porque eu fazia bolos saborosos.
Eu parei de fazer, sabia?
Aqueles recheados e lambuzados que você tanto gostava deixei de fazer.
Bem, nem que eu viva cem anos vou me esquecer daquele dia.
Nas mãos você trazia um buquê de rosas cor-de-rosa. Eram lindas, lindas.
Você veio de ônibus. Uma viagem cansativa. E me trouxe flores.
Chegou preocupado dizendo que eu deveria colocá-las num vaso com água imediatamente.
Pai, eu te confesso que aquelas rosas nunca murcharam, nunca morreram. Elas vivem em minha alma.
Ganhei tantos presentes pela vida afora, mas rosas viajadas e lindas como aquelas...
O sentido daquele buquê, o perfume, a ternura...
Meu Deus! Você meu pai... dizem que era meio desajeitado em expressar seus sentimentos.
Seus olhos, meu querido, conversavam comigo.
Desajeitado?
Lembro quando saíamos pelas estradas de carroça (isto na minha infância) e você colhia flores do campo para a mãe.
Era tão bonito vê-lo apanhando as flores...
Pai, você sempre foi tão lindo, tão autêntico.
Saudades.