Eu sempre soube.

Practiced all my sins, never gonna let me win

Under everything, just another human being

I don't wanna hurt, there's so much in this world to make me bleed

-Just Breathe, Pearl Jam.

Vinte e três anos. Não gosto de números ímpares. Nunca gostei, apesar de o número nove me perseguir por toda a vida. Ainda assim, tento fazer a ampulheta andar mais rápido, terminar o serviço. Olho no calendário e percebo que já faz cento e oitenta e três dias desde que me esqueci. Esqueci quem sou. Esqueci onde, quando, como e por quê. Sobretudo, por quê.

Descobri coisas, as quais não gostaria de descobrir. Ocultei-me em cada pequeno esconderijo, em mente e em coração, em canções melancólicas e verdadeiras do velho grunge, que eu nem sabia que gostava. Perdi-me em punk rock e anarquismos sujos. Ocultei-me até ficar invisível.

Agora, Just Breathe, da Pearl Jam, toca sem parar nos meus fones. É tudo o que consigo escutar. É o que me acalma, me esvazia. É o que deixa a dor ir embora por um momento, até eu ter de deixar a dor ir novamente. É algo que não posso controlar, foge de todo o meu domínio. É uma dor que não consigo definir. É dentro, é invisível, mas está em todo o lugar, em todas as partes de mim. É um espasmo agudo na alma. É uma dor que me apaga, dia após dia.

Estou deixando de existir.

Essas linhas, talvez, sejam um silencioso grito de socorro, enquanto luto para que todo o mar permaneça inalterado dentro de mim. Que o mar que forma minha alma não se enfureça, não me faça desaguar. E, ainda que eu seja quase inteiramente feita de água, seria possível que não tenha mais água e sal para molhar meus olhos e minhas bochechas? Será que, um dia, não restará mais dor para deslizar dos meus olhos até minha boca?

Eu quero gritar, mas parece que tudo está preso dentro de mim. Nada sai, nem em palavras, nem em escrita, em nada. Perdi o gosto, o prazer tudo o que me deixava feliz. Parei de escrever um livro e agora ele está pela metade, há meses. Isso nunca me aconteceu. Nunca deixei de sentir extrema felicidade em escrever. Aquilo que fazia com que eu me sentisse viva, simplesmente sumiu.

Há razão para continuar?

Não quero acordar nos próximos dias. Apenas isso.

Não quero.

O que há em minha mente é incontrolável. É barulhento e inquieto. É como quando eu andei, em alguma noite de janeiro, bem perto do mar. A areia estava molhada e as águas eram calmas. Parece que ainda estou lá, que nunca deixei de estar. E o que sinto agora é como estar andando por essa areia molhada, esperando as ondas chegarem aos meus pés.

As ondas é essa condição a qual estou presa e hoje sei que tudo depende de duas coisas: a força das ondas e minha capacidade de equilíbrio. Sei que as ondas não pararão, elas sempre virão. Não há como detê-las. Também compreendo que é complicado manter o equilíbrio sempre.

Não sei o que fazer, pois as ondas estão me afogando. Já não consigo respirar. Não há razão para existir, ainda que eu constantemente procure. O mundo desapareceu.

E eu também.

Pensamentos ruins me perseguem, me deixam imersa. Não consigo afastá-los, por mais que eu lute. No fundo, talvez, não haja mais pelo que lutar. Tudo em que penso é em algo que não doa tanto, que seja rápido e suave, como um adormecer. Talvez, pensar demais deixe tudo mais difícil. Pensar se eu faria falta para alguém e chegar a conclusão que não, é o que mais dói. Ver como estou sozinha por minha própria opção. Afastei tudo e todos de mim e não me orgulho disso, mas sei que chega em um ponto em que não há como voltar atrás.

Sei que tudo tem uma razão para ser e acontecer. É como um ciclo.

O fim acontece, inevitavelmente.

Eu sei. Eu sempre soube.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 12/12/2015
Reeditado em 12/12/2015
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