Frágil como o papel, cortante como o vidro
Ainda hoje eu não acredito que aquela história acabou. Os primeiros meses foram lindos. Perfeitos. Pela primeira vez na vida eu conseguia reconhecer a perfeição em uma pessoa, mesmo sabendo a completa imperfeição que somos. Até mesmo o completo caos que me ronda. Aqui dentro. Onde a bagunça é muito pior. Onde há anos me vejo de ponta cabeça. Se algum dia alguém quisesse me "virar do avesso" e tentar organizar essa desordem, eu já adiantaria que o trabalho seria árduo. E talvez nem conseguisse chegar à metade. O tempo, a vida, as pessoas, ou mesmo eu próprio, transformaram-me nessa tragédia-comédia, em que ora estou rindo, ora chorando. Numa roda gigante que somente eu e as pessoas mais próximas conseguimos nos habituar. É difícil lidar com os sentimentos. Com a gangorra em que eles transformam nossas vidas. Sou bem sincero em admitir que não queria ser assim tão dependente de meus sentimentos. Pior, dos sentimentos alheios. Não queria eu alimentar dúvidas acerca do que pensam sobre mim, do que sentem por mim e muito menos do que esperam de mim. Eu sempre espero o melhor. Mas o futuro não podemos prever, nem controlar. O passado não podemos modificar. Aprender com ele é o que devemos, eu sei. Mas como também sei o quanto é difícil. Amar é difícil, viver, idem. Em algumas horas gostaria muito de poder voltar no tempo, principalmente remotamente; lá, duas décadas atrás. E apagar cada uma das dores e feridas que me foram causadas. Ou amenizar aquelas que eu mesmo causei. Ou, então, simplesmente, aprender quando criança uma maneira de aprender a conviver com tudo isso, para que as palavras que agora "gravo" não fossem necessárias.