O que acontece em Vilete

Vilete, 27 de novembro de 2015, 19h30min.

Querida Fefê,

Lembra-se daquele botão que você falou que se fosse para o bem, que eu fizesse uso? Eu fiz.

A parte ruim é que eu vim parar em Vilete mais uma vez.

Aqui não é de tudo ruim. Temos horários para tudo.

Levantamos às 7 horas da manhã. O café é servido as 07h30min junto com a primeira medicação, aquela que nos deixa felizes e em alerta, digamos assim.

O salão do café é fechado as 08h30min e eles nos deixam ir para o pátio. Dizem que o sol da manhã é bom para a pele e para os cabelos.

As 10 h soa o sino para entrarmos. É hora de distração. Eles liberam a sala com televisão para aqueles que gostam. Eu normalmente volto para o quarto e vou ler e escrever. Meus amigos imaginários me fazem companhia.

Às 11 horas soa o sino para o almoço, e na mesma fila recebemos o remédio para anemia. A maioria das pessoas aqui estão com o sangue fraco. Eu também estou.

Como atividade extra e opcional, após o almoço nós podemos ajudar na cozinha com lavagens de pratos. Eu gosto de estar em contato com a água, portanto eu sempre ajudo após as refeições. Além disso, me ajuda na digestão.

As 14hrs é a hora de tomar três gotas para tirar a ansiedade. Assim, eu consigo cochilar por algumas horinhas, e me levanto quando o sino do lanche da tarde é tocado. Como bem sabe, eu não perco nenhuma refeição. A comida daqui não é de tudo ruim. O que atrapalha mesmo são os efeitos colaterais das medicações, porque minha boca fica amarga e muito seca. É horrível.

Sabe Fefê, se eu não estivesse tomando todas essas pílulas, eu sei que estaria sentindo saudades de você e das outras amigas, mas agora eu não estou. Quero dizer, sobre esses efeitos eu não sinto nada, mas lhe escrevo agora exatamente para não matar tudo que eu sentia anteriormente, e deixar viva a saudade que eu sentia quando ficávamos dias sem nos correspondermos. Ou seja, essa carta é para dizer que eu me lembro de você e preciso de ti ao meu lado.

Como tem sido seus dias de folga?

A primeira coisa que eu farei quando sair dessa casa, será pisar nas areias que ficam próximas da sua casa. Combinado? Preciso sentir, preciso tocar, preciso voltar a ser eu.

Bom, acabei de tomar o remédio para desligar a mente e logo caio no sono.

Vou me despedindo.

Espero notícias suas, porque me corresponder com você e os meus amigos imaginários me deixa ligada ao mundo lá fora, porque aqui dentro é muito fácil de se perder de vez, e eu não quero me dar a este luxo.

Abraços fraternais.

Veronika.

Gabriella Gilmore
Enviado por Gabriella Gilmore em 28/11/2015
Código do texto: T5463437
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