Diário de cartas 4
Querido F.
Você sabe que sou dada a vulcões e erupções. Amo o zen. Vez em quando, umas vezes mais, sou zen ,amém. E gosto muito. Tem também que sou o depois da vastidão. De vastidão. Devassidão. É que sou isso mesmo sem nuvens sem nada. Eu nada. Transparência chuvosa. Nevoeiro. Areal. Pêndulo nu. Calmaria e vendaval. Nem te conto que sou um conto rápido longo e forasteiro. E uma amendoeira ou baoba no meio da noite na escuridão. Sento embaixo de mim mesma e digo silêncios. Dorido. Tão doidos e doídos que não fazem pio. Nem há nu cio. As vezes me causam uivos. Chuva grossa em terra seca rachada. Meu silêncio árido ardido de sertanejo.
Mas tem que sinto vulcão em mim dentro. E falo pra fora um deserto pra derramar me toda. Lava. Brasa. Magma. Quenturas. Ardências. Vapor. Água. Vida. Desejo. Vulcão!
Vulcão dormido cuspindo cores vapores mansinho até lamber todo o corpo da terra em brasa derramada. Hóstia e galáxia.
Eu sou tão humana. Tao humana! Que quase não cheguei a ser. Era mais bicho. Mais coisa. Mais pedra. Mais onda e água. Espuma fugaz. Concha esfarelada. Cristal. Onça lâmina de sol. Luminária de lua. Era fogo e ferro. Era mais primata primeva que primavera. Era alga e larva. Charco poeira e terra. Era um vento nas folhagens. Era fumaça e erva. Incensário de lua. Estrela rosa. Mesa posta cartas abertas. Era um ser que ainda não sabia que se era. Agora sou isso de ser humana. Vou dizer que consegui contanto que muito me morri..aos prantos sem porto nem cais...sou tão humana quanto nunca fui. Sou tão humana que você já não lembra mais. E estou gostando muito disso. Disso de ser humana! E pensando bem, sinto que preciso ser um bom tempo assim. Esse estado de amar que me cheguei. Que é o meu estado melhor de ser.
Aperto a tua mão e fecho contigo, meu irmão humano.