Diário de cartas 2
Querido H.
me escuta. existem coisas que me afastam, exitem coisas de que me afasto. existem coisas que quero me afastar e não consigo de logo. mas de pranto.
mas de você não tenho jeito de me afastar.. de sua escrita...de sua leveza. mas tem que me afasto sem nada. como quem dormita numa nuvem com senha e tudo. mas está ali, você sabe, tem certeza e um dia eu desço da nuvem me ponho na rede e me lanço! como uma informação desnecessária. uma fotometria inútil um piscar um flesh um deva imaginário de tão real nas entrelinhas de qualquer olhar, sem dever nem um.
faço o que quero e o que não devia. eu sumo tão profundamente numa nuvem que quase não me acho depois de tanto procurar, é... eu ainda me procuro. perdida que ando. deve ser porque chove e me desmancho toda por aí dispersa. Meio em praças meio em versos. e no balanço vazio de parques de diversão. me chama? Você me chama e eu me dou conta porque não contabilizo nada, mas te conto que pode ser doidice de ser isso assim desse jeito de ser eu. desacoplada, tão desconectada que num clique posso ate evaporar. sou feita de sumidouros. você me recebe, recebe? sem vírus eu sem nada. nuinha minha palavra.
li a vida com dores e fiquei doída, me floriu de amores de mim isso da maria. que sou eu e que somos um pouco de todos nós. das nossas mulheres em nós e nem muito percebemos.
eu já te disse isso antes - que aliso a tua lisura e que moro na casa do temp(l)o onde você trata todo mundo bem. e é livre. isso é bárbaro e tem a luz de pacientar fúrias ou esclerosar cancros, eu não tenho. tenho curto circuito que tento alongar ao máximo. o pavio. parvo peso cavernoso no peito. mas é que me dói muito tudo. hoje estou pesada e densa, templo nublado aqui. necessito dormir, e necessito estar só. estar só, só com alguém que está assim na minha solidão e é como um poema...queria ser um pouco virginiana como tu, que tem acabamento na língua, eu sou cachorra, lambona, se o amigo acorda, pronto! rabo agitado e língua às soltas na tua cara nos olhos, pra ler o olhar que é onde se entende mais as gentes- língua e olhos -, virginiano que tem arte pura clássica na veia na vida. Que faz as coisas ficarem ajeitadas. Com bom contorno. Queria ser mais classuda como você e minha gatinha Lady mas sou mais um soldado desses que você tanto sabe que fica ao sol e suado se dá nos nervos e quer atirar pra tudo que é lado. mata até quem tá no espelho e a sombra - alias queria por um instante minha sombra em mim, eu feito gato brincando com a propria sombra. eu entrando em mim como uma sombra. meu sonho de ser eu. e não ser. eu entendo. eu seria bem pior se tivesse na pele no uniforme de um desses, e eles ainda conseguem manter a mão abaixada, meu deus! eu vivo como que correndo peito avulso de perfurações sem balas sem balões sem pipocas sem algodão doce, com punho cerrado pronto prum soco e preso o pranto e o espanto, no gatilho todos os prantos cristalizados e o fogo não sai. pronto! essa porra de arma de cano de coldre queria ter um caralho! Meter na boca. Apertar o gatilho. seria mais fácil atirar - atirar logo nessa minha cabeça dura, mas tem que nem precisa que o miolo já é todo mole. e desmantelado. e tem muito montante pra andarilhar...e meus pés estão cansados de entrar pelos becos pelos morros pelas vias pelas vilas pelas ruas sem saída por tudo que é canto, de soslaio e torto.
eu ando muito puta, assim cheia de palavrões que nunca falo, aliás eu nunca falo nada, eu nunca. ando por aí com um mutismo quase religioso, muito mais profano e cínica do que santo- mentira - que sou fofa, uma boba que dorme com a consciência tranquila. Sem nenhuma esperteza na fala em nada. feito pedra quando deito, mas tem que eu sonho. um mundo sem barulhos e feito com um pouco mais de calmarias. eu precisaria tomar intranquilizantes. e também elevadores. tá vendo que tô variando. é que tem dias que a tempestade que chega é da cor dos teus olhos....castanhos.
Um beijo a mais e o abraço de um tamanhão assim óó!!
A.