Hoje, o fim
Hoje eu acordei pensando em você. Mas não foi igual aos outros dias. Não foi igual ao dia em que a gente marcou de conversar de novo, mas não deu. Não foi igual ao dia em que eu sem saber de nada contei todos meus defeitos e segredos. Tô na sua mão, eu sei. Não foi igual a nenhuma das outras vezes, desses anos que a gente tem se esbarrado. De repente bateu uma coisa, um aperto no peito, uma angústia. Ou então, deve ter sido a música que eu ouvia. Dizem que o estresse, o cansaço e a dor fazem a gente imaginar tanta coisa, até o amor. Imaginar o amor? Eu olhei pro celular e a cada alerta, nenhum era seu. Chequei pra ver se você aparecia no Facebook, pra ter algum vestígio seu. Eu tava ouvindo uma música que dizia que o amor nunca é como um sussurro e, sim, um berro. Uma pena que ele nunca mais vai gritar pra nós dois. Hoje eu esperei você me dizer como foi o seu dia – porque eu acho linda a forma como você se dedica a sua vida, como você transpira paixão e preocupação até quando fala que tá cansando e sem saber muito o que fazer. Senti uma vontade de chorar, você não acreditaria se me visse correndo na praia, como eu queria chorar quando disfarçava pensando que vai chover amanhã. Eu só pensava que você não vai estar aqui e que eu tenho uma festa de criança pra ir, e não vejo graça nessas festas, sem uma criança. E sem você. Pensei também no casamento que vai ter. Chorei por dentro, porque chove em mim sempre que seguro tudo e não descarrego, chove e ninguém vê, chove e só você acha bonito quando o meu sorriso está mais pra nublado. Reparei que metade das coisas que eu aprendi a fazer nesses últimos tempos foram ensinadas por você. Mesmo sem você me falar nada. Apenas te observo. E não é que eu dependa de alguém pra apreciar as coisas boas na vida, mas pra que eu vou me sentir mal, quando eu quebrar mais uma taça de vinho? Prefiro derrubar a maioria e guardar apenas uma: a minha. Eu tento explicar pras pessoas que tem coisas nessa vida que eu só sinto com você. Arrepio, angústia, um choro que fica aqui dentro, um sorriso tapado olhando pro chão e um rubor que eu sempre disfarço, com corretivo. Você aparece e eu me moldo, me encaixo, me erro pra você ir acertando. Sou aquela que você, há tanto tempo, viu correndo descalça na praia de Camburi, com o mais lindo pôr-do-sol de pano de fundo. Eu sou a Zona Sul inteira, a boemia, os bares. Sou aquela que sabe que nunca mais vai ser sua. Sabe a Vista Chinesa? Sou ela e todos os beijos que já foram dados e vistos por lá e se eu fosse o Redentor, iria andar de braços bem fechados num abraço só. Mas aí, eu lembrei que antes de tudo, eu sempre achei o Cristo perfeito. De braços e coração abertos. Bem abertos. E aí, daqui dessa cidade maravilhosa, decidi escrever pra ver se eu te explico que é besteira acreditar que toda história acaba com um final feliz. E que hoje, hoje é o fim.
Julho/2015