Ao primo Luiz
Primo, recebi a sua cartinha e pretendo respondê-la do melhor modo que puder neste momento. Mas, antes, receba as minhas desculpas por não ter podido estar mais assiduamente na sua casa. Ando com a cabeça meio atarantada. Espero que passe. Se não passar, sirva-se dessas desculpas para as próximas vezes em que eu te prometer alguma coisa e não cumprir. Apesar de não saber qual é o prazo de validade para desculpas antecipadas...
Você me pergunta por que determinado acontecimento nos nocauteia mais do que os outros, e fala da impossibilidade de haver uma escala Richter que determine o grau de magnitude das nossas emoções. Usou muito bem a palavra tsunami. Gostei e concordo.
Realmente, primo, não há escala visível. Cada um sabe de suas dores e da proporção do estrago que cada uma delas lhe faz. Há algumas que depois de certo tempo até nos fortalecem, outras nos deixam no chão por um bom tempo, mas que cambeteando nos levantamos e prosseguimos. Algumas nos tiram a vontade de continuar tentando sentir emoções, quaisquer que sejam. E a gente vai sentindo muito, na medida do possível, pelas dores alheias, um pouco pra esquecer das nossas. Acho impressionante a capacidade que têm certas dores alheias de nos entreter. Vou te confessar que às vezes até prefiro viver entretida pra não pensar nas minhas. Quando temos os olhos abertos vemos a lama alheia mas, se os fechamos, vemos as nossas.
Primo, me diz, em qual delas nos atolamos mais?
Eu só sei que há muita. Por baixo, por cima, por dentro. Há as que vêm de muito longe, feitas estes tsunamis que você diz, trazidas por ondas estranhas, e as que vêm de tão perto que parece até que nascemos de dentro delas. E há as que geramos e que mais dia menos dia vão querer voltar pra casa.
Não recomendo eletrochoques. Vá ver o mar. Você tem mais sorte que eu, porque o tem por perto. Sempre é alguma coisa.
Fique bem. Entretenha-se. Abraço.