Ao Raimundo Quildário

Meu caro conterrâneo Quildário,

Valho-me da boa vontade do mano César para fazer-lhe chegar a presente. Não é que tenha perdido a fé nos nossos Correios, que tanto bem espalharam boas e não tão boas novas por este nosso Brasil. E você há de ter a nominata, escrita ou mentalizada, dos estafetas desta nossa terra, antes e depois do já lendário Joaquim Carteiro. Pois inclua o César agora nesta prestigiada relação.

Por ocasião de nossa conversa telefônica de umas poucas semanas atrás, pude fazê-lo ver – e crer – o quanto me é valiosa esta sua obra de garimpagem e beneficiamento dessas Pepitas de Pitangui. E se uma ou outra observaçãozinha de lembrete ou de questionamento cabe colocar aqui e ou acolá , isso só demonstra o interesse que o trabalho suscita.

Hombre, você, com a sua linguagem afável, o seu trato humano de nossas personagens, fatos e paisagens, dá justa e mais tangível continuidade à obra-referência do Monsenhor Vicente Soares sobre a História desta terra tão sedutora. E como em matéria de memorialismo uma coisa puxa outra e nada se esgota, estou certo que o seu livro seguinte, já pronto conforme me antecipou, repetirá o êxito do primeiro, e irá ainda além, para o nosso melhor entender dessa Senhora Serrana que tanto cativa quanto mais se a reviva.

E vão aqui duas pequenas observações, que lanço ao largo espectro de sua prodiosa memória, e vai ver que o César ainda tenha algo a adicionar, ou a me contestar: o nome da famosa lutadora que desafiou, e segundo alguns venceu o grande Zé Baiau era Salomé Garcia. Ou será que estou enganado? Mas a verdade é que o nome era tão bem sonante que continua a retinir nos desvãos da cachola.

E ainda, entre os Pracinhas, tão bem homenageados em seu livro, creio, se não é que andei saltando páginas ou parágrafos, caberia juntar o nome de um José Casemiro, que conheci no final dos anos 50, residente solitário numa casinha singela, onde a rua Ignácio Camilo faz

singular curva, e em cuja janela o Casemiro, tomado pelos goles e pelos pesadelos dos campos de batalha, dizia impropérios enquanto queimava cobertores – quiçá para espantar a lembrança dos horrores.

E não me alongo mais, por hora. Fica o abraço fraterno do ex-colega de classe noturna do admissão ao ginásio daquele finzinho do ano de 1961, e mais recentemente, vai aí coisa de quarenta anos, das “feras do nosso João Albino”, treinando, treinando, com o Heráclio, o Vito,

o Sininho, o Messias, o João de Barro, o Cabrito, você, eu, o Zé Antônio Franco, e quantos outros, naquele poeirão do Homero Silva pre-gramado, sempre na esperança do jogo prometido, nunca porém realizado – para a continuidade de nossa invencibilidade ad saecula,

saeculorum...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 03/11/2015
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