Lamentos à Amora
Segunda feira, 22 de Janeiro de 1945, Pirapora Minas Gerais
Querida Amora, desculpe mas não posso lhe cumprimentar, meus sentimentos são rápidos demais para esperarem tais segundos do deslizar da caneta, fique apenas com meus lamentos é o que posso fazer por enquanto.
Não sei você mas depois de tudo isso eu ainda me lembro, não sei você, mas minha ira passou tão rápido que quando fechei o portão e te deixei lá fora, já estava em soluços de arrependimento...
Querida saiba que eu me lembro, eu me lembro dos seus olhinhos diminuírem ao passar pela fumaça na rua, eu me lembro tanto do seu vestido, como ele realçava a sua beleza! Ao passar por lojas femininas, todas te lembram, o rosa queimado que você tanto gostava, os casacos de lã que você sempre usava no frio, você se lembra do que eu havia lhe prometido? que te compraria luvas, suas mãozinhas ficavam dormentes no frio! foi uma pena o tempo não ter esperado mais um pouco eu queria ter lhe atendido esse pedido.
Lembras da chuva? Eu nunca me esqueço dela, pois lembro como você gostava de admira-la no segundo andar da biblioteca, eu ainda vejo os seus olhos gravando cada gota que deslizava pela vidraça, me arrependo tanto de não lhe ter emprestado meu casaco esse dia, me arrependo tanto de não lhe ter abraçado na chuva, de não ter te carregado em cada poça de água que encontrasse, me arrependo de não lhe ter recitado o poema que tanto gostava...
Porque motivo nos afastamos? Eu nem me lembro mais... Ah sim! foi por ela, pela sua graduação, mas não podíamos continuar? alias, não é tão longe assim, eu poderia sim lhe visitar. Como arrependo de ter lhe dito essas palavras: Não dá mais como vamos estar juntos estando longe? Sim, poderíamos estar perto estando longe, eu te amaria, e o meu amor me traria você todas as manhas na minha janela, eu ouviria a sua voz em cada esquina, eu lhe visitaria todos os meses, e sempre te levaria bombons, e claro as luvas também.
Amora, como eu gostaria de voltar ao tempo, escrevo sobre trilha sonora que você mais gostava, ao canto dos pardais após a chuva, o tempo continua tão fresco desde quando você saiu daqui, a rua esta úmida como você gostava, há casais de mãos dadas passeando pela rua. há velhinhos lembrando da juventude e contando às crianças.
Hoje faz 1 ano... Se ainda lembras responda-me.
Gustavo Rocha.