Carta de um Suicida
Via tudo de outra forma.
Via o cantar dos pássaros como um choro trist, de quem voa livre, mas vive preso sempre ao mesmo céu.
Via o voar das borboletas como pesado fardo, castigo por elas roubarem das flores, olhares cheios de inveja.
Via o brotar de uma flor como uma dor a mais, apenas mais uma para ser esmagada por pés insensíveis.
Via a chuva como o pranto de Deus, um Deus que chora, mas que ainda sim, insiste em crer em sua criação.
Via o vento como um sopro de Adeus, que arrancava as folhas das árvores, sem pedir permissão á Primavera.
Via o tempo como um senhor grisalho, que sorri ao pensar que desperdiçamos segundos preciosos, em buscas que não nos levarão a nada.
Via a Vida como um filme de terror, onde por mais que se corra, o inimigo está sempre um passo a frente.
Via o Mundo como um recém-nascido que por não ter quem lhe ensine a andar, é obrigado a caminhar sozinho, e seus tombos são inevitáveis.
Enfim, via tudo com os olhos enegrecidos.
Aprendi a enxergar só o que me era conveniente, e descobri que é fatal olhar os problemas com lentes de aumento.
E por isso, chorei.
Chorei por não ver a luz do Sol, por não saber como o voar de um pássaro é lindo, ou como é doce o perfume das rosas.
Chorei por não ter caminhado na chuva por não brincar com o vento, e por não ser brinquedo dele.
Chorei, por desconhecer o tempo, por não segurá-lo quando ele veio a cair por terra.
Chorei, por não amar demais, e por não ter chorado por Amor.
Chorei porque passei a vida toda buscando coisa alguma, procurando motivos que me motivassem a viver.
Chorei, pois sei que não basta estar vivo.
É preciso mais.
Tenho que ensinar o Mundo a caminhar pra frente, ajudar ele a atravessar a rua quando necessário, ou empurrá-lo em direção ao Sol.
Tenho, não que segurá-lo, mas sim cair com ele quando preciso.
E se é necessário o meu Adues ao mundo, para que ele possa dizer Olá a felicidade, é com alegria que me despeço.
E guarde de mim não as lagrimas, e sim os sorrisos.
Sorrisos escancarados na hora errada.
Sorrisos sinceros com crianças inocentes.
Sorrisos sarcásticos com adultos inocentados.
Ou só, um sorriso.
O sorriso de alguém que chorou, sofreu, sorriu, não amou, mas confiou.
E assim descobriu, sem chorar, quão vital é a morte.
PS: Aos amigos que acompanham meu trabalho no Recanto, deixo claro que a idéia de suicidar-se nunca passou por minha cabeça,
rsrsrsrsrs
Mas se ousasse fazê-lo, seria assim que me despediria.
Abraços a Todos.
E o meu Muito Obrigado aos amgos escritores, e leitores.