Desabafo de Ninguém
Não sei o que fazer, nem sei para onde ir. Não importa o quanto tente, o quanto me mantenho para prosseguir, nada muda, nada faz sentido. Hoje repassei em minha mente lembranças de meu passado, de minha solitária infância sem amigos, me mudando de um Estado para outro, depois de bairros em bairros, de casas em casas, de colégios em colégios. Tantas mudanças que nunca pude criar raízes por longos anos, tantas mudanças que houve um tempo que queria me mudar continuadamente sem nunca me firmar no mesmo lugar. Cresci assim, vendo um adeus não dito após um oi, cresci no silêncio tendo como companhia a televisão, o rádio, os HQs, os livros, os vinis e fitas cacetes que depois se tornaram CDs e DVDs. Anos mais tarde veio a internet e a TV paga. Era só o que eu tinha, o que eu tenho no final das contas. Cresci sem ter alguém e assim sem saber com quem conversar, cresci com uma solidão terrível me afligindo o peito, torturando minha alma. Cresci sem muitas espectativas e a única coisa que me dava motivos para sonhar eram meus desenhos, mundos, estórias e pessoas que testemunhava em minha imaginação. Hoje revendo tudo que passei, que passou, revendo minha tola trajetória, os anos me sentindo perdido, excluído, amargurado e triste, tendo a pessoa que unicamente amei me quebrar por dentro mais de uma vez, de ver minha fé em Deus morrer em preces em vão, preces que nunca foram ouvidas até hoje, revendo que a cada dia que passou me aproximou mais da velhice, que a solidão e a tristeza prevaleceram de forma inalterada, que a vida me afastou de minha arte, a única razão que me deu sentido para a minha idiota existência, revendo de minha infância até o dia de hoje em que nem sinto vontade ou motivo para acordar... Vejo, com tudo isso, que nunca deveria ter nascido. Não tenho história, não possuo passado, não adiquiri imóvel algum, nem carro, nem amores, não tenho mais sonho ou esperança, nem metas, nem futuro, não possuo nem mais qualquer prazer na vida, nem mesmo as mais banais, apenas respiro e com arrependimento ainda existo. Desabafo aqui em linhas que talvez ninguém venha a ler ou se ler não compreenda, apenas ria ou veja a estupidez desses relatos patéticos e comuns, talvez até pense "por que não se matou ainda?". Porém aqui não escrevo sobre querer morrer e sim de não conseguir sentir prazer ou ver sentido em viver, e creia, são coisas muito distintas. Hoje tento não pensar muito, sigo o fluxo como todos, mas sem qualquer esperança ou importância, apenas finjo sorrir, finjo ter planos, ninguém me vê ou saberá de fato como me sinto, como eu sou.
(Eu sou inexistente e vazio por dentro. Sou tristeza e pecado, raiva e dor, solidão e arrependimento. Sou uma sombra que grita em silêncio, que chora sem derramar lágrimas, uma canção esquecida no vento.
Eu sou nada. Eu sou ninguém)