Querida G, a última carta

Olá G, não como começar algo que está no fim, Você me teve todos os dias. Eu era seu mesmo quando não queria, eu era seu até mesmo quando era de outra pessoa. Você me tinha, você me teve nas suas mãos, mas preferiu me deixar escapar. Você me tinha tanto, que quando você escolheu me perder, e eu obedeci, mesmo contra a vontade. Você sabe que me envolveu e bagunçou meus sentimentos, mas burro fui eu, de deixar você entrar na minha vida achando que seria diferente, você sabe que não foi a única que me fez sentir assim, mas você foi a última, e não houve próxima. Em um momento, você me fez sentir importante. No outro, completamente descartável. Mas a vida é repleta de ilusões, o que a gente espera é que elas não nos machuquem. Só o tempo vai amenizar o que senti, isso quer dizer que ainda não superei. E mesmo indo embora a gente sempre tem um lado que quer ficar. Um lado que quer tentar mais uma vez. Que acredita nas coisas boas. Que se pedirem com jeitinho, a gente sempre acaba perdoando. Um lado bobo. Um lado que nos torna o que nunca devemos deixar de ser: humanos, talvez seja o meu lado inútil, mas o melhor lado de mim, aquele que você conheceu, hoje eu sinto que o nosso fim, com poucas lágrimas de um lado, algumas mágoas, como algo que eu já estivesse esperando sem querer acreditar. Essa desistência exigiu de mim muita coragem, que fique você sabendo.

Com você descobri que amar é mandar, achar que manda, obedecer, fingir que obedece. Amar é perguntar “tá dormindo? ” É descer do ônibus com o outro à espera, é cantar desafinado, é morder queixo, orelha, cotovelo, lábio, fazer cosquinhas, se engasgar com o que você nunca comeu. Amar é comer uma coisa diferente para acompanhar o outro, é ficar de mal, é arrumar tempo para pensar no outro, mesmo na correria do dia a dia. Tudo isso fez meu coração apanhar por quem ele mais batia. E o silêncio me fez refletir, me magoando um pouco mais, porque a gente não tem ideia se a pessoa está sentindo a nossa falta ou se está gradualmente aprendendo a esquecer.

Sei que minha falta na sua vida não é tão grande como eu gostaria que fosse, E esse é o meu problema, né! É um sentir pouco e outro sentir demais. O problema é conseguir rir, sair numa sexta à noite, apagar todas as mensagens e agir como se nada tivesse acontecido… E nem precisa dizer, mas eu sei que você não consegue fazer o mesmo. Fui tentar consertar o seu coração e acabei quebrando o meu.

E daí você já tem outra pessoa. Eu também poderia arrumar outra, mas não posso me dar ao luxo de estar ao lado sem estar com o coração que você levou quando partiu, então prefiro ficar sozinho. Eu também segui em frente, mas sempre seguindo em frente com um pé atrás grudado no passado. Você fica naquela esperança que a dor que você sente vá embora, mas ela não vai, ela fica ali, doendo, te lembrando o tempo todo o quão machucado por dentro você está. Acredite, ninguém se importa, na realidade, acho que nem você, pois é tão normal você se sentir importante pra alguém e logo depois o seu tapete ser puxado. Um dia tudo isso passa, é o que eu penso todas as manhãs quando ligo o computador e vejo que não existem mensagens me falando de saudades.

Desculpe a intensidade, mas se for pra amar pouco, prefiro não amar.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 21/10/2015
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