Sem Despedidas
Ela morreu.
Não encontro outra forma em escrever tal acontecimento.
A realidade sempre pode lhe surpreender com algo ainda pior, com o que não aguardava, pelo menos não agora, não hoje, talvez nem nunca.
Ninguém espera a própria morte ou a de alguém.
Ela morreu.
Ecoa em minha mente essa frase sempre que me vem essa verdade. Há momentos que até esqueço, então lembro de algo do passado, ou de como me fez raiva e causou mágoas e logo me vem mente:
Ela morreu.
Não foi morar longe, não fugiu, nem desapareceu, ela está morta, pura e verdadeiramente morta. Está apodrecendo num caixão relativamente caro debaixo da terra em um cemitério abarrotado de cadáveres desconhecidos.
Na verdade nem ser que fui ao seu funeral, sua família não tinha como me encontrar ou entrar em contato (e provavelmente nem o fariam). Soube por terceiros, mas a verdade é que sei que não iria da mesma forma. Estava morta e seu adeus foi me dado de forma cruel e fria muito antes de seu falecimento. De certo modo, ela ao seu jeito, se despediu sem deixar saudades ou boas recordações. Talvez tenha me feito um favor.
Porém não nego a semana de insônia e sonhos estranhos diante do conhecimento de sua partida. E como tudo depois passou, hoje só ficou a frase automática.
Ela morreu.
E era tão jovem, de uma grande inteligência, carisma, beleza e crueldade extrema devido ao seu vasto egoísmo de somente visualizar seus desejos e própria felicidade.
Vai ver foi castigo ou presságio pela forma como se foi sendo esmagada em um acidente em seu próprio carro rubro, tão visível ao longe. Morrer assim era seu maior medo e justamente dessa forma foi celada sua vida.
Ela morreu
E nem tenho uma história boa para falar de sua pessoa. Senti até certo alívio, o que é horrível admitir, mas é a verdade. Ela morreu e me sinto livre para caminhar pelas ruas sem cruzar com sua presença incômoda.
Enfim... Se foi sem nunca me pedir desculpas, se foi cheia de razão.
Ora... Que se dane. Me desculpe quem se ofender...
Mas ela morreu.
E foi até tarde demais.