APOLOGIA À NOSSA AMIZADE .
Imaruí, SC 26 de junho de 2007.
Minha Querida, simpática, alegre e inteligente AMIGA.
Doutora Raquel,
Nós, poetas, somos por um raro desígnio do inescrutável, apologistas por excelência.
Por isso, hoje, se me for possível inteligir e traduzir o que está chancelado na minha alma, pretendo fazer esta apologia totalmente dedicada a ti.
Isto porque, a natureza com toda a sua sapiência e a presteza mística com que ela traça o destino, houve por bem, te colocar no túnel dessa vida para que pudesses te aproximar de mim e eu de ti.
Já dizia o eminente e irreverente filósofo, Voltaire, precursor do século das luzes que: “Substitui os prazeres, mas nunca substitua amigos”.
Doutora Raquel, eu quero a tua amizade com tantas “ganas” que, tu não sabes o quanto tu és considerada a minha amiga linda e preferida.
Talvez ainda não tenhas percebido o amor que te devoto, e a absoluta necessidade que tenho da tua amizade.
A amizade, minha querida Doutora, é um sentimento mais nobre do que o amor.
Eis que ela permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto que o amor tem intrínseco o ciúme que não admite a rivalidade.
Confesso-te que eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas, por certo, enlouqueceria se morressem todos os meus amigos.
Assim, sorridente e extrovertida Doutora, poderás avaliar o quanto a minha vida depende e quer, a tua sincera amizade.
Não sei por que, para mim, os amigos são anjos e eles não sabem que são anjos, às vezes, alguns deles eu não procuro, basta-me saber que eles existem e que estão bem.
Mesmo não os procurando com assiduidade, eles não sabem dimensionar o quanto eu gosto deles.
Esta apologia Doutora Raquel, que tem feitura ou cara de crônica, talvez seja lida por eles e, acho que eles, não vão acreditar nesse meu modo de gostar.
Segundo Aristóteles, Doutora Raquel, a amizade é fruto do hábito e da vontade, é qualquer coisa de extraordinário; agora, eu que sou um “Heráclito”, patrício de Aristóteles e mais velho na ciência do pensar, digo que, a amizade é a mais elevada das virtudes, porque ela é a expressão legítima e anímica do benquerer.
Ontem eu recebi o teu e-mail e, para ser sincero contigo, eu fiquei muito triste, mas ao mesmo tempo aprendi que, ou melhor, lembrei-me que:
Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça, isto porque no sucesso verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.
Como é delicioso saber e sentir que eu te adoro, como uma amiga linda, risonha, extrovertida, distante e ausente.
Embora o mestre Aristóteles considere que existem amizades estabelecidas com base na utilidade e no prazer, mas, a verdadeira amizade ainda é aquela que decorre da bondade.
E tu és o meu anjo de pura bondade!
Tendo a tua amizade que adoro sobremaneira, eu te confesso que, agora, je ne me sens pas plus perdu.
Se todos fossem amigos diletos, a condição de bem-estar e felicidade seria como se habitássemos um paraíso.
Na verdadeira amizade, a gente dá-se ao amigo mais do que dele se quer, e assim, a amizade é considerada desde que o homem existe como a expressão genuína da felicidade.
Doravante, minha linda e extrovertida Doutora, tu serás impactada e gravada no meu inconsciente, como aquelas figuras rupestres feitas pelos nossos enigmáticos ancestrais.
Deixo-te aqui grafado em sinal de desagravo um aforismo de Santo Agostinho sobre a amizade que diz o seguinte:
“A amizade é tão verdadeira e tão vital que, nada mais santo e vantajoso pode se desejar no mundo”.
Encerro com a minha saudação de: Saúde, força e União.
Afetuosamente Eráclito.