Carta ao moço
Mas, moço, foi você quem falou que me esperaria até criar teias de aranha no coração. Você há de saber que as pessoas gostam de testar o amor, há de saber. Mas foi esquecimento, juro. Nem quis. Não me lembrei que a estante já estava empoeirada quando fui comprar envelopes de carta e me esqueci de voltar. E te esqueci na estante. Eu nem quis.
Olhando, assim, agora, de longe, nem parece mais você. Grande, cheio de mundo e de poder. Nem parece mais você, assim, com teias de aranha no coração.
Não me vira o rosto, moço, só porque agora se acha senhor. Só porque se esqueceu que amor é coisa de gente que não se esquece.
Eu sei, eu sei, você também nem quis.
Rasgue esta carta devagar, e depois se esqueça.