Carta para DEUS

Querido DEUS,

É estranha a sensação de conhecê-lo, sem nunca tê-lo visto, sinto o mesmo ao ouvir um locutor de rádio, tento imaginar como seria o seu rosto baseado apenas na beleza da voz, nem sempre indicativo de beleza física, o que é bem relativo. Bonito e feio é questão de visão pessoal, espírito e boa vontade. Mas temos uma relação, disso não duvido. Só não lembro exatamente a primeira vez que ouvi seu nome, ou que soube da sua existência. Talvez tenha sido a minha avó, católica até o último fio de cabelo e que certamente ficaria chocada com o rumo religioso que tomou a família, marido e filha, Testemunhas de Jeová, um neto aparentemente ateu e eu, livre de qualquer tipo de rótulos. Sempre achei que o SENHOR - gostaria de tratá-lo por "você", caso não se importe, me avise ao responder, por ora, manterei a formalidade -, fosse maior do que a religião, na verdade, o vejo como a própria religião. Amá-lo e crer em sua existência transcende toda manifestação/ seita/ costume/ ensinamento ou prática difundida por homens. De nada adiantaria reunir-me com outras pessoas, entoar cânticos, orar fervorosamente, demonstrar publicamente uma fé inexistente no coração, acho melhor assim, me sinto próxima, íntima, segura até mesmo para lhe escrever.

Quando pequena era difícil pensá-lo como uma força. Como falar à uma força? Precisava de uma personificação e não sei exatamente o porquê, mas a minha referência era o pai da Ariel, a Pequena Sereia, um senhor com longos cabelos brancos e barba de mesma cor, coroa de ouro, cetro e presença imponente, coração puro, justo e nobre, sempre disposto a ajudar, perdoar e disciplinar, com exceção da cauda, ainda o vejo de forma parecida. Queria encontrá-lo, conversar, tentar entender coisas que só teriam explicações plausíveis, se vindas de ti. Tivemos maus momentos, acho que se lembra de quando cortamos relações - eu cortei -, infantilidade de quem queria respostas rápidas, resultados imediatos e delegava a outros toda responsabilidade pelos fracassos pessoais. Era difícil não ter a quem falar, pensei que poderia ser simples deixar de crer em alguém que jamais tinha visto, engano meu, era tão parte de mim, que esse gelo apenas me afetou, não deve ter sentido nem um friozinho de leve.

Não me prolongo. Escrevo mais em breve. Sei que é grande a demanda, caso possuísse redes sociais, teria bilhões de solicitações diárias, além das conhecidas curtidas, críticas, ofensas gratuitas, pedidos de ajuda e muitos elogios também, mas confesso, gosto do fato de não saber onde te encontrar, da subjetividade que há na sua presença. Alguns dizem que DEUS é cada um de nós, nunca pensei seriamente a esse respeito, acho que prefiro me reportar a alguém, dividir contigo, enquanto penso pra mim mesma, os meus maiores segredos, medos e fragilidades. Não duvidarei da sua existência caso não receba uma resposta, mas gostaria se ela viesse. A minha única dúvida é... Qual seria mesmo o seu endereço?

Att,

Débora Brun