Meus Ouvidos
Meus ouvidos cobertos por cabelos enrolados e cor castanho, eram castanhos...
Ouviram, não seus pássaros nos ouvidos, mas a uma voz penetrante e imensamente calma, tão calma que não parecia existir...
Era como se minha mente perturbada estivesse sendo inundada apenas pela voz e estando por longos segundos com foco em algo, sem pensamentos intrusivos que me desviam a atenção. Mas não, os pensamentos tinham som baixo, então, fiquei ouvindo e entendendo o que ali se dava, não fiquei absorta na fronteira entre o insubstancial da minha cabeça e o que a realidade tem. Estávamos ali, na realidade. Conversando sobre sentimentos exclusos no sótão onde jogávamos nossas mais frias e sádicas passagens de nossas curtas vidas, falando dos mais psicóticos devaneios de nossa mente tão iguais...
Voltei aos versos de minha dor, mas aos de dor suportável e não o de dor regida por mais dor; tudo diferente.
E veio os escritos sórdidos de dias tensos com ainda mais emoção pura e simples grafada em cristais de sal, o sal que escorre do mento às páginas baratas de um caderno. Momentos de puro torpor de alegria? De alivio ou ainda de paixão? Não, não sei se foi isso o gatilho dos meus sorrisos, mas sei que precisei sentir afeto para perder o medo de dá-lo.