Isto não é uma carta de suicidio

pois já estou morto; não me sinto mais vivo.

Dias ensolarados ou dias de chuva; o canto dos pássaros; o vento; o sorriso sem motivo de um recém-nascido; o nascer e o por do sol ou o luar, já não são o bastante para alegrar meu espirito.

O cheiro e o gosto de comida fresca depois da fome e da vontade de comer; a saciedade ao beber água após um longo tempo com sede; já não me satisfazem.

A companhia dos meus amigos não me agrada mais, me sinto deslocado, desfocado, não consigo me concentrar. As piadas internas, trocadilhos, olhares, malicias, já não tem mais graça para mim. Os sorrisos, as risadas, os abraços, a preocupação, já não me afetam. As músicas que ouço já não tocam mais meu coração, são para mim agora, apenas um conjunto de melodias dentro de uma harmonia, delimitadas por um ritmo dentro de um pulso.

Correr, nadar, jogar basquete ou xadrez, já não me empolga.

Ler já não me traz devaneios, nem estimula minha mente e escrever já não reflete mais a aflição da minha alma.

Uma caminhada sem rumo, um cochilo pela tarde, já não me trazem tranquilidade.

Abraçar e ser abraçado por minha amada, segurar-lhe a mão, beijar-lhe a face ou a fronte, já não me traz paz.

Eu perdi minha fé em um deus, não acho que exista um; e se existir, por que não se mostra? Por que não me salva?

Não acredito que psicólogos e psiquiatras com seus doutorados e mestrados possam me ajudar. Eles não tem conhecimento o bastante para entrarem em mim e me puxarem para fora.

Me sinto preso num sonho onde só observo, onde as pessoas esbarram em mim e nada sinto. Sinto meu corpo pesar como se eu tivesse acabado de acordar e ainda quisesse dormir. Sinto que já não pertenço mais a esse lugar.

Isso não é uma carta de suicídio pois, em algum momento antes, eu já morri.

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Obs: Isso realmente não é uma carta de suicidio. Isso partiu de mim, obviamente, mas foi apenas por inspiração. Tive uma aula de filosofia, na qual meu professor afirma que um filosofo (do qual não me recordo o nome) afirma que durante a vida criamos 3 ilusões: A arte, a ciência e a religião.

A arte se refere tanto às artes plásticas, quanto à música ou a poesia. Usamos elas para escapar da realidade;

A religião serve para nos fazer acreditar que há vida após a morte. Usamos ela para não temermos a morte.

A ciência serve para nos fazer acreditar que poderemos ser imortais um dia, tendo pleno conhecimento de como curar cada enfermidade.

Meu professor disse que se diagnostica um suicida em potencial quando ele perde a fé e o gosto nessas 3 ilusões e um psicopata é identificado quando percebe-se que ele se sente incomodado de ver outras pessoas se sentindo bem com essas 3 ilusões, como quando lhe desagrada ver outra pessoa feliz por ouvir música, ou por acreditar em um Deus.

A inspiração veio em dias que estive chateado por problemas pessoais e que ouvir minhas músicas não me agradava mais. Mas apenas as músicas que já tinha no meu celular, pois já ouvi elas milhões de vezes e precisava de coisas novas. Então lembrei-me dessa aula e guardei a inspiração para escrever essa carta. Não perdi minha fé em Deus, nem mesmo na ciência. Não tenho a intenção de cometer suicidio, então não se preocupem.

O eu-lirico da carta é apenas uma pequena parcela de mim.