Composições de um Cenário Deslumbrante

Ensurdecedor é o despertar da consciência. A imensidão de água enegrece aos poucos. Os últimos raios de luz esvaem-se no céu.

A escuridão fortalece o vento que com tanta força atinge meu corpo. Lentamente levanto meu olhar. As ondas calmamente chegam a orla.

Tão suave é a sensação que o mar transmite, que torna-se inevitável lembrar da tua existência. O som das ondas se formando ecoam pela praia. Som este único, onipotente e memorável. A solidão instala-se sem obstar-se. O anseio por tua companhia é algo presente a todo momento.

Escuros como o mar sob a luz do Luar são teus olhos negros envoltos por tua macia e tênue pele branca. Nem mesmo o mais forte brilho da maior estrela poderia substituir a ausência do brilho do teu olhar tão penetrante. Nem mesmo o mais belo canto do mais lindo pássaro poderia ocupar o lugar da tua suave e doce voz. Nem mesmo um navio, que tão longínquamente corta as águas negras do oceano poderia ocupar o teu lugar no meu coração inundado de saudade.

Eternamente seria grato eu se pudesse desfrutar de um segundo ao teu lado. Tão puro é o que sinto que mesmo uma criatura divina tornaria-se um mar de pecados se comparados.

Mesmo com a fraca luz amarela da Lua Cheia posso enxergar no horizonte uma embarcação a todo vapor. Deslumbrante, desfila por entre as águas do mundo. Tão focada, tão intimidante... Tão distante, assim como tu.

Uma única lágrima corre por meu rosto e mistura-se às gotas do oceano. Tão forte é este sentimento que suprimí-lo ao encontrar-te torna-se cruel. Fico estático, com o olhar vazio, enquanto acompanho a longínqua embarcação sumir no horizonte. A escuridão novamente cai sobre as águas tranquilas, juntamente com a tristeza que vem assolar a minha tão triste alma.

A luz do luar aos poucos dá lugar para raios mais fortes. O sol começa a despertar, e as águas a agitarem-se. Um novo dia começa, trazendo junto da luz, uma esperança. Uma esperança para o mar, de não mais ser assolado pela escuridão. Uma esperança para o vento, que não mais há de cortar a solitária noite. Uma esperança para a embarcação, que agora deve navegar confiantemente. Uma esperança para a lágrima, que junto do oceano há de seguir para o mundo. Uma esperança para mim, que hei de juntar-me a ti, para sermos como as ondas, o mar, o vento, a lua e a noite: composições de um cenário deslumbrante.