O MOMENTO DA CRIAÇÃO POÉTICA

Querida amiga Eliane! Tive de reformatar e reescrever a tentativa de Poesia, que está apresentado como poema em prosa. Não estava obedecido o ritmo e não cheirava a poesia e, sim, a bilhete laudatório, meramente.

Cuidado com os versos e a sua grafia. Não basta apenas colocar as palavras acolheradinhas numa linha e ir fazendo a separação delas. É necessário ter sentido e formato, obedecendo ao ritmo, que é o cadenciamento sonoro das palavras, mesmo na poesia dita contemporânea.

Há que se ter cuidado com a palavra que inicia cada verso: só pode haver letra maiúscula quando o sinal gráfico antecedente exigir a escrituração da palavra com maiúscula.

Os sonetistas (clássicos) imprimiam os seus versos com a primeira letra em maiúscula. Era este o costume. E permanece até os dias de hoje, para a maioria dos versejadores da velha escola.

E o computador, que é máquina, grafa assim, porque é um asno. Não que o seja extrinsecamente, porque não tem a cauda e nem aquelas costumeiras e ágeis orelhas... Ou melhor, está a serviço de um ser intelectivo, humano que o tem de ensinar, domá-lo totalmente.

Há que se ver se os versos dispostos naquele momento, na página, formam ou não um pensamento completo... Desta sorte, para a grafação com letra de imprensa maiúscula vale a regra da frase em prosa.

Ao demais, poesia é estética, beleza. E o poema, que é a materialidade da Poesia, não tolera ser formatado com se fora uma “cobrinha”, que é a forma como estava sendo apresentado originalmente por ti: os versos parecendo um soluçar constante. Sim, porque o verso curto é quase sempre um soluço ritmado. Por isso ele precisa ser ‘redondo’, musical.

Para veres o som das palavras é só ler mais de 20 (vinte) vezes, em voz alta, para ver se o ritmo está certo; andamento que sugira a música, porque no poema está implícita a musicalidade das palavras.

Também se constata lapso verbal em “pressão”, OK?

Creio que esta é uma abordagem analítica que te poderá dar um norte para a experimentação poética, em nível pessoal.

Espero ter ajudado a te instigar, a te provocar ao poema mais estudado, mais cuidadoso, não ficando somente na dita inspiração. Esta se apresenta somente no primeiro momento, aquele da ‘catarse de criar’.

Formato sugestão:

PERFIL

Eliane Huning

(para retratar Miguel Russowsky, poeta)

O Divino define bem o homem.

De humano pouco há.

Absoluto na essência.

De todas e de ninguém.

Deseja atenção, semeia humor.

Deseja carinho, planta vida.

Deseja prisão, prega liberdade.

De figurino clássico,

coleciona semelhantes.

Sem soberba, agrupa multidões.

E sua doçura conquista corações.

Arquivo Original – Recebido em 22Jun2007, p/ e-mail:

De Humano,

Pouco tem.

DIVINO,

Te define bem.

Absoluto na essência.

De todas ,

E de ninguém.

Deseja atenção,

Semeia humor.

Deseja carinho,

Planta vida.

Deseja prissão,

Prega liberdade.

Com figurino clássico,

Coleciona semelhantes.

Com superioridade,

Agrupa multidões.

E com doçura

Conquista corações.

Eliane Huning.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/537480