Não vou te esperar ligar

_ " Meu número."

_ " Ah, te ligo."

Pensei em falar:

_ "Não se preocupa, eu não vou te esperar ligar. Vai ligar, se quiser, ou não vai ligar. Não vou permitir que a ansiedade de encontrar alguém especial, que pode ou não ser você, me tire o sono. Não vou conferir a cada meia hora se perdi alguma ligação ou sem querer, pus o celular no modo silencioso. Não ficarei agarrada ao aparelho como um náufrago ao salva-vidas, nem deixarei de fazer nada do que faço normalmente esperando que ele toque. Minha vida não mudará se nunca mais nos falarmos, talvez não mude mesmo que nos falemos. Hoje foi bom, ao menos pra mim e não temos a obrigação de dar continuidade a nada. Há beleza nos encontros rápidos, quentes e de uma só noite. Há beleza na paixão apenas, no prazer consentido, no gozo. E faz bem pra saúde. Talvez você me ligue, talvez eu me empolgue, talvez eu me arrume e capriche ainda mais achando que isso fará com que me ligue mais uma vez, talvez na próxima, eu ligue. Posso te trazer pra minha casa, posso te trazer pra minha vida, posso te encantar ou te assustar, isso vai depender dos seus conceitos de defeitos e qualidades, e da sua tolerância. Posso me decepcionar. Quem me garante que é perfeito? Pode ser ciumento, agressivo, preconceituoso, pode acordar mau humorado ou falar comigo com voz de criança enquanto pronuncia algum apelidinho carinhoso e ridículo. Se for assim espero mesmo que não ligue. Mas, como vou saber, né? Então, liga! Só não pense que vou criar expectativa."

Foi o que me imaginei dizendo. Apenas imaginei. Se o fizesse, teria a certeza de que meu telefone não tocaria pelos próximos cem anos.

Limitei-me a falar:

_ "Fica à vontade."

E de fato, tudo vai depender mesmo de vontade.

Por ora, tive uma excelente noite. No momento, já me basta.

Débora Brun
Enviado por Débora Brun em 04/09/2015
Reeditado em 14/06/2016
Código do texto: T5370621
Classificação de conteúdo: seguro