A Louça

Meu amor, nunca tenha ciúmes, sou tua. Na verdade, estou tua. Acho que é uma expressão bem mais adequada para quem assim como você não acredita nessa sensação de pertencimento. Sempre lidamos bem com o desapego, a solidão, seu futebol com os amigos, minha noitada com as amigas, sua introspecção, minha bipolaridade. Sempre estivemos um com outro mesmo sabendo que nunca seríamos e nem precisávamos ser um do outro. Para alguns o título de detentor dos direitos da vida, do corpo e do amor de outra pessoa é quase uma alta patente, motivo de orgulho. A Maria do João, o Carlos da Vanessa, o Bruno do Pedro. Alguém sempre é de alguém. Mas não tem aquela música que a gente gosta que diz que ninguém é de ninguém? A gente vai, mas volta. Amo você e amo estar com você, mas também amo sentir sua falta, te dar espaço, te fazer falta, ligar pra você, esquecer de ligar pra você, esquecer de você e me lembrar horas depois, sei que faz o mesmo. Gosto de saber que sem mim tem seus momentos de macho alfa, ostentando pros amigos uma liberdade bem questionável, afinal, sabemos bem quem manda aqui. Não abro mão de passar todo o dia me produzindo pra sair com as meninas de vez em quando, beber umas cervejas, falar de homens, sexo, do nosso sexo e não me sinto nem um pouco culpada ao vê-lo sentado no sofá assistindo TV. Volto tarde, mas volto pra você. Ah, é a sua vez de lavar a louça do jantar.